segunda-feira, março 26, 2007

Cartas de Iwo Jima

Título Original:
"Letters from Iwo Jima" (2006)

Realização:
Clint Eastwood

Argumento:
Iris Yamashita, baseado no livro homónimo por si escrito

Actores:
Ken Watanabe – General Tadimichi Kuribayashi
Kazunari Ninomiya – Saigo
Tsuyoshi Ihara – Baron Nishi
Ryo Kase – Shimizu


“Estarei a cavar a minha própria sepultura?” é a frase que abre o filme Cartas de Iwo Jima, segunda metade de um mural sobre a célebre batalha de Iwo Jima, ponto de viragem da Segunda Guerra Mundial, iniciado com As Bandeiras dos Nossos Pais.

À determinação demasiado forçada do lado americano, assistimos agora à defesa da ilha de Iwo Jima por parte das tropas imperiais japonesas. A rigidez da disciplina só encontra paralelo nas provações a que são forçadas para sobreviverem. Os regimentos estacionados na ilha foram abandonados pelo Japão à sua sorte, incapaz de enviar homens e equipamento bélico para garantir uma defesa eficaz. O general Kobayashi liderou as tropas e estabeleceu estratégias que permitiram a resistência à invasão durante 35 dias, quando inicialmente se previa a capitulação ao cabo de cinco.

As Bandeiras dos Nossos Pais carregava no oportunismo do lado político da angariação de fundos através da exploração de uma fotografia mediática, deixando o desembarque e a invasão na ilha como um formulaico videojogo de shoot’em up. Cartas de Iwo Jima dedica-se mais ao efeito cebola, esforçando-se por provocar lacrimejos a cada cinco minutos. Filmado com o mesmo rigor cromático que a visão americana, peca por oferecer a derrota japonesa antes mesmo do início das hostilidades. Fica-se com a sensação, pelos discursos emocionados dos generais e pelas atitudes desiludidas dos oficiais subalternos, de que houve pouco empenho. Nomeadamente no que respeita a suicídios em massa de membros sobreviventes de regimentos derrotados: em vez de lutarem até ao último homem, suicidam-se grupos de homens que poderiam ter feito alguma diferença.

Do lado logístico, lamenta-se a falta de pessoal. Exigia-se mais figurantes para se atingir um mínimo de credibilidade. Fala-se em milhares de soldados japoneses, mas não vemos mais do que algumas dezenas. Acreditamos que está tudo perdido antes de começar, especialmente se repararmos na armada americana, à chegada, que ocupa de tal modo o oceano que quase não se vê a água.

A duração do filme é excessiva. O responsável pela montagem devia estar a dormir, e com isso foi acompanhado pela plateia. Era conveniente acertar o passo com a utilidade das cenas e do conjunto. Não é qualquer filme que aguenta a duração do Senhor dos Anéis.

Cartas de Iwo Jima é um filme sentimental, que se preocupa em dar o factor humano por trás da guerra. Infelizmente, Clint Eastwood dá ares de se ter cansado com as andanças do exército americano e agora não ter fôlego para debruçar-se convenientemente sobre o inimigo. Os túneis, que tão providenciais se revelaram como estratégia de emboscada (e mais tarde usados pelo Vietname), são dados como uma iniciativa singular de um general que “devia estar atrás de uma secretária”, uma ideia mal vista pelos outros oficiais. Bandeiras dos Nossos Pais era um filme sobre uma vitória geral, cujos protagonistas imediatos saiam perdedores (nenhum dos os três hasteadores da bandeira vêm a ter vidas de sucesso). Terão tido os japoneses uma vitória moral?

Uma última nota para a típica desumanização feita aos americanos, nomeadamente em filmes da própria nacionalidade, mais uma vez apresentados como animais, ao matarem a sangue frio soldados japoneses desarmados que se lhes renderam, método que reforça a compaixão pelo inimigo oriental, que até cuida de soldados americanos feridos que lhes caem no regaço. Recorda-se Danças Com Lobos, em que depois de termos aprendido a gostar dos índios, sentimos ódio pelo exército branco que os desrespeita e trata com crueldade.

® Ricardo Lopes Moura

3 Comments:

At 10:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

concordo completamente, aquilo parecia meia dúzia de gajos à nora e falavam em milhares de soldados.

e sempre a puxar a lágrima, como a cena bué previsível do cão que o chefe queria q o polícia militar abatesse. via-se logo que ele não ia matá-lo e que o cão ia denunciar isso.

e concordo com isso dos americanos serem os maus, quando queremos que os outros sejam os bons. sempre afazerem maldades. mas, por outro lado, é verdade que são uns animais, como vimos os anormais dos soldados americanos no Iraque, o que fizeram aos prisioneiros naquela cadeia e isso...

 
At 3:27 da tarde, Blogger Loot said...

Tinha grandes esperanças em relação a este filme. Ainda não tive oportunidade de ver

 
At 12:40 da manhã, Blogger Pedro Pereira 77 said...

Ainda não vi nenhum dos dois, mas qual será melhor? As Cartas de Iwo Jima ou A Bandeira dos Nossos Pais?

 

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