domingo, março 18, 2007

Dreamgirls

Título Original:
"Dreamgirls" (2006)

Realização:
Bill Condon

Argumento:
Bill Condon, adaptado da obra de Tom Eyen

Actores:
Jamie Foxx – Curtis Taylor Jr.
Beyoncé Knowles – Deena Jones
Eddie Murphy – James “Thunder” Early
Jennifer Hudson – Effie White

Drama em formato de musical sobre um trio de cantoras soul que pretende singrar nessa carreira ingrata, com egos e talento em conflito, com a honestidade das vozes e a corrupção da indústria discográfica como pano de fundo.

O realizador escrevera o argumento do musical Chicago, realizado por Rob Marshall, mas a sua carreira como realizador tem tido altos e baixos. O Relatório Kinsey e Gods and Monsters prenderam as atenções e nomeações da Academia, mas a sequela de Candyman não podia ter sido mais ridícula, e era suposto ser um filme de terror (claro que o original de Bernard Rose já não era nada de especial). Os cinco telefilmes que deixou para trás não escreveram História, mas a estreia em 1987 com Sister, Sister teve alguma aclamação índie.

Dreamgirls quer ser tudo num só. Por essa razão, enche-se de pequenos personagens, aos quais dá tempo de antena suficiente para que resistam à planura esperada, e curiosamente nenhum se enforca com a corda que lhe é dada. As jovens cantoras que compõem o trio protagonista têm ideais diferentes, que tentam realizar, o manager tem um pouco de bom e muito de mau, há quem singre e quem se afunde, há ilegalidade, vinganças e traições. Talvez por isso seja um projecto em constante desequilíbrio, tanto mais que, ao fim de uma hora de duração, de repente, os personagens começam a cantar em vez de falarem, artifício não utilizado até então, e a partir daí repetido quando calha. Onde está a unidade narrativa? É comum nos musicais os diálogos serem travados como canções, mas normalmente essa opção é manifestada ao longo de todo o filme, mas aqui parece que só se lembraram de usá-la já as filmagens iam a meio.

Beyoncé começou a carreira cinematográfica com Goldmember, o pior filme da trilogia de Austin Powers, e desde aí não ficou na retina uma única vez. Em Dreamgirls, como parte de um ensemble, funciona melhor. Há tempo para todos os actores, cantores ou não, gozarem os holofotes, e ela é apenas mais um deles. Não destoa. Talvez seja o suficiente para passar a perna a Britney Spears, Whitney Houston e Mariah Carey. Mas nenhum dos envolvidos merecia Óscares ou Emmys, porque ninguém se destaca em Dreamgirls senão pela voz, e Eddie Murphy nem isso tem a seu favor. Quanto a Jennifer Hudson, o seu vozeirão nem sempre é afinado, e overacting não devia ser considerado talento. Será por fazer de gorda que é preterida como solista por esse facto? Já se deram prémios por menos...

Dreamgirls vê-se com agrado, como um manifesto piscar de olho à carreira das Supremes de Diana Ross (e até lá andam pelo meio uns sósias dos Jackson Five, e não nos esqueçamos de que Michael Jackson tinha uma paixoneta infantil por Diana Ross), mas nem sempre utiliza o tom adequado à história que tenta contar e por vezes descarrila com canções aparentemente intermináveis e que só ali estão para encher. Para quem gosta de musicais, as coreografias são poucas e lastimáveis, os vestidos nada de especial e as canções de gosto variável. Vale pelo conjunto, mas não pela soma das partes.

® Ricardo Lopes Moura