domingo, dezembro 02, 2007

Promessas Perigosas

Título Original:
"Eastern Promisses" (2007)

Realização:
David Cronenberg

Argumento:
Steven Knight

Actores:
Viggo Mortensen - Nikolai Luzhin
Naomi Watts - Anna Khitrova
Vicent Cassel - Kirill
Semyon - Armin Mueller-Stahl


Neste novo filme de David Cronenberg (A Mosca – 1986, eXistenZ - 1999), Viggo Mortensen é de novo a personagem de destaque após o seu papel em Uma História de Violência - 2005. Luzhin é um misterioso russo que trabalha como motorista para uma família mafiosa da organização Vory v Zakone. A sua função é basicamente “tomar conta” e livrar dos sarilhos em que se mete Kirill, o boémio e fraco filho do chefe da organização, Semyon.

Um luxuoso restaurante de gastronomia russa situado em Londres, é o disfarce de Semyon para as “actividades” dos Vory v Zakone. É lá que, sem nada saber, vai bater à porta a parteira Anna Khitrova na esperança de descobrir a identidade e os familiares de uma adolescente com apenas 14 anos que morreu enquanto dava à luz.

Enganada pela afabilidade de Semyon, Anna mostra-lhe o diário da jovem, pois não o consegue ler por estar escrito em russo, sem imaginar que os assuntos relatados envolvem a organização.

Luzhin, que simpatiza com Anna, aconselha-a a afastar-se de Semyon, mas ela está determinada em descobrir a verdade, pensando no destino da bebé que a adolescente morta deixou. Então pede ao seu tio Stepan (Jerzy Skolimowski) que lhe traduza o diário. Perante os factos que fica a saber ela terá de decidir se vale a pena arriscar a sua vida ao meter-se no caminho dos criminosos.

O filme em si tem algum interesse, no entanto falta-lhe algo e tem um final previsível, que deixa algo em “stand by”. Já vimos em vários filmes as atrocidades que as máfias são capazes de fazer, pelo menos no que respeita a isto, Promessas Proibidas é mais “leve”. Esta outra história de Cronenberg tem uma violência que se traduz em navalhas afiadas e gargantas jorrando sangue. De resto já tivemos outras histórias de um pai implacável com um filho que o envergonha e põe em risco a continuidade dos “negócios” de família.

O que o filme parece fazer é explorar a complexidade da personagem Luzhin. Frio e forte, mas ao mesmo tempo com uma capacidade de comoção bem escondida atrás da sua silhueta sombria. Acabamos por não conhecer profundamente e na sua totalidade a personalidade de Luzhin perante as mudanças que se vão desencadeando na sua vida. Em relação a esta personagem as outras são como os planetas a girar à volta do sol, à excepção de Semyon e a sua subtileza de parecer inofensivo e implacável ao mesmo tempo.

Viggo Mortensen, o eterno Aragorn, dedicou-se literalmente de corpo e alma a este filme, não se poupando a uma cena em que luta completamente nu contra dois brutamontes num balneário.

A relação de lealdade de Luzhin com Kirill, deixa-nos a pensar um pouco sobre esta segunda personagem. Apesar de ser um mulherengo, tem para com o seu motorista uma relação de bastante proximidade. Kirill parece esconder em relação a Luzhin um sentimento mais forte do que amizade ou companheirismo. Vicent Cassel conseguiu a proeza de juntar ao seu sotaque francês o sotaque russo, o que resulta num sotaque confuso que não parece nem de uma língua, nem da outra.

De resto, quanto a Naomi Watts, está igual a si mesma, com pouco espaço para a sua personagem brilhar.

® Isabel Fernandes

2 Comments:

At 2:19 da tarde, Blogger Flávio said...

Oi! Gostei muito de ler o teu texto Isabel, mas acho que o juizo que fazes do filme é um pouco injusto. Os actores são, como disseste, brilhantes (acrescentaria o magnífico Armin Mueller-Stahl como o avô mafioso) mas há muito mais para ver neste extraordinário filme, que é extremamente original. Deve ser a primeira vez que vimos a cidade de Londres filmada desta maneira, sem os clichés e os postais ilustrados do costume. E a sequência da luta no balneário, que também referiste, é magnífica, é o duche do Psycho elevado ao cubo.

 
At 8:57 da tarde, Blogger Cataclismo Cerebral said...

Se querem ver uma Londres igualmente realista e longe do imaginário dos postais aconselho o bem superior Intimidade...

 

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