quinta-feira, outubro 26, 2006

Psico Detectives

Título Original:
"I Heart Huckabees" (2004)

Realização:
David O. Russell

Argumento:
David O. Russell & Jeff Baena

Actores:
Jason Schwartzman - Albert Markovski
Dustin Hoffman - Bernard
Lily Tomlin - Vivian
Jude Law - Brad Stand
Naomi Watts - Dawn Campbell


Convencido que uma série de coincidências que lhe aconteceram recentemente contêm o segredo para os grandes enigmas da vida, Albert Markovski (Jason Schwartzman) procura a ajuda de uma agência de detectives no mínimo original, constituída por Bernard (Dustin Hoffman) e Vivian (Lily Tomlin). E é com a ajuda deles que Albert irá questionar a própria essência da vida.

O realizador americano David O. Russel já tem uma certa tradição de filmar comédias inteligentes, como Three Kings ou Flirting With Disaster e I Heart Huckabees (ou Psico-Detectives no título português) não é excepção. Estamos perante uma produção de qualidade! Trata-se de uma comédia existencialista em que quase tudo na vida é questionado, incluindo a própria vida.

O elenco é de luxo e podem-se encontrar nomes como Dustin Hoffman, Jude Law, Naomi Watts, Lily Tomlin (destaque feminino), Mark Wahlberg e Jason Schwartzman. E num filme onde todos os actores estiveram bem, foram os dois últimos nomes que oferecem as melhores interpretações, com os seus devaneios constantes de loucura existencial. Um preocupado com um homem de cor que por coincidência (ou não) já encontrou diversas vezes. Outro que apenas se desloca de bicicleta, pois segundo ele "há pessoas a morrer de fome nos países onde existe tanto petróleo".

E é precisamente neste tipo de questões que I Heart Huckabees marca pontos. Por exemplo, fala-se na questão da preservação das florestas, da guerra, do infinito, de ditaduras, de política, de filosofia, de "ser", de "estar"...no fundo fala-se dessa experiência única que é "viver". Num argumento que começou a ser escrito em 1980 estes temas continuam bem actuais. Os diálogos contêm tudo isto e muito mais, daí o filme não ser para toda a gente. Se estão á espera de piadas fáceis, tirem daí o sentido. Aqui a linguagem densa e por vezes abstracta obriga-nos a pensar e ainda bem que assim é!

Pode ser um bocado pretencioso em certas cenas, no entanto nunca é previsível. Peculiar, estranho mas nunca desinteressante. É uma comédia refrescante, em que quase todas as personagens dizem o que pensam e onde o surrealismo surge por diversas ocasiões. É acompanhada por uma fantástica banda sonora de Jon Brion e é uma das melhores propostas desta silly season. Por estas razões, não se compreende como é possível ter demorado mais de um ano para estrear em Portugal e quando finalmente o fez, em Lisboa só estreou na sala mais pequena do El Corte Inglés...Para ver, observar e pensar!

® Mário Lopes