sábado, abril 23, 2005

O Informador

Título Original:
"The Insider" (1999)

Realização:
Michael Mann

Argumento:
Eric Roth e Michael Mann

Actores:
Russel Crowe- Dr. Jeffrey Wigand
Al Pacino- Lowell Bergman
Christopher Plummer- Mike Wallace


Não tem sido muito sensato (mais no seu ano de estreia, claro) rotular O Informador de filme-denúncia como quem não quer a coisa. A exposição dos malefícios do tabaco aqui é meramente secundária. Verdade que acaba por despoletar toda a desconcertância vigente no filme mas não é gerida mais do que, simplesmente, de forma a servir de base para toda a trama sentimental e profissional com que somos banqueteados. De facto, esta complexa obra quer-nos transmitir como funciona, e o que dela advém, a visceral razão de ser do jornalismo: o acesso à verdade.

A intrigante premissa reza que Jeffrey Wigand (provável melhor interpretação da profícua carreira de Russel Crowe), um conselheiro científico da empresa tabaqueira americana Brown & Williamson, ao ser despedido desta, resolve expor a crua verdade sobre as substâncias tabagistas que criam um eficaz vício no ser humano que as consome. Para isso, passando por várias indecisões, jogos mais que mentais, inseguranças e reflexões à procura de um sentido, une-se a Lowell Bergman (Al Pacino com uma performance assombrosa a ir contra quem o gosta de reduzir a actor minimalista de sentido puramente a denegri-lo), o produtor de 60 minutos, o programa mais respeitado e prestigiado da cadeia televisiva CBS, programa, na minha humilde opinião, detentor do melhor jornalismo do mundo. E é o dito que, através das acções de Bergman, quer servir de transporte para fazer chegar a “raiva” e/ou o acto altruísta de Wigand a público. Um herói? Bem, é isso que o desencantado Bergman procura, mas a família do primeiro vê exactamente o oposto no seu patriarca, o que adensa notoriamente a tensão emocional deste.

Michael Mann afirma-se a si próprio como um cineasta obsessivo com o controlo pormenorizado das suas obras. Louvar, louva quem quer, mas é inegável a ambição de Mann em carregar de arte técnica os filmes. E é mesmo a câmara que com a sua ousadia, seus devaneios sentidos, contribui imensamente para a caracterização dos personagens, vistos com a postura emocional que merecem, que emana da fabulosa plástica do filme. A fotografia é irrepreensível, com uma escuridão que vai no espírito da obra, desencantada, mas nada complacente e gratuita. Neste aspecto, podemos aplicar o mesmo a A Última Hora. Uma palavra para Christopher Plummer (jornalista da CBS que entrevista Wigand), que como secundário, rouba todas as cenas. Foi um portentoso folgo na sua carreira este O Informador, que dura perto de três horas mas que devido ao seu interesse resplandecentemente intrigante é um constante deleite. E já agora, se me permitem, queria referir uma cena memorável: Wigand, na altura de tomar uma decisão fulcral e turbulenta (entre outras no filme) e para percebê-la melhor, diz desencantadamente (tenho mesmo mesmo de repetir esta palavra) a Bergman: “- O que é que mudou?” “– Desde esta manhã?” “– Desde sempre…” Isto mostra que, apesar da vida ter momentos verdadeiramente angustiantes… é sempre difícil.

® Artur Almeida