sábado, abril 08, 2006

Capote

Título Original:
"Capote" (2005)

Realização:
Bennett Miller

Argumento:
Dan Futterman & Gerald Clarke

Actores:
Philip Seymour Hoffman - Truman Capote
Catherine Keener - Harper Lee
Clifton Collins Jr. - Perry Smith
Chris Cooper - Alvin Dewey


Capote - vencedor do Óscar de Melhor Actor para Philip Seymour Hoffman - dá a conhecer a parte mais humana do escritor norte-americano Truman Capote, na altura em que ficou obcecado pelo assassino de uma família, no Kansas, que o inspirou a escrever In Cold Blood.

De uma personagem obcecada e algo irritante resulta um filme inspirador que consagra um grande escritor e revela um grande actor. Philip Seymour Hoffman, que é produtor executivo do filme, entra em todas as cenas deste filme do “quase” estreante Bennett Miller. Só isso poderia fazer com que ficássemos saturados dele, mas acrescendo ao facto de ter uma voz fina muito diferente do habitual e que é muito egocêntrico, poderia ser um filme extremamente irritante. Mas não é. É uma personagem que primeiro é puramente estranha, depois amiga e familiar, e depois com cria sentimentos dúbios.

O filme humaniza Capote, e o processo valeu a Hoffman o “título” de favorito para os Óscares (nomeado para melhor filme). Quem foi Capote? Um repórter da revista New Yorker que se celebrizou por escrita de argumentos e livros como Breakfast at Tiffany’s e In Cold Blood. É sobre a pesquisa para este último livro, o mais importante na sua vida e carreira, que o filme se debruça.

Novembro de 1959. Este homem baixo, com cabelo muito composto, que se encaixa totalmente no estereótipo “gay”, e é assumidamente homossexual, parte para uma pequena localidade no Kansas, onde uma família foi assassinada. Por lá contacta de perto com o investigador principal (Chris Cooper), que procura os assassinos. Mas depois deles serem encontrados ele assume que quer escrever um livro sobre as motivações de um dos jovens que matou impiedosamente.
Como figura estranha que é, conta com a ajuda de Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância e também escritora (que ganharia o Pulitzer) que o ajuda na pesquisa e nas entrevistas. Keener aparece aqui como uma autêntica confidente, num papel em que está fisicamente mais rude e simples que o habitual.

A segunda metade do filme mostra-nos um Capote obcecado por um dos homicidas, Perry, visitando-o constantemente na prisão antes da sua execução, e é a partir daí que começa a construir, na sua cabeça, o novo livro que como ele próprio indica, iniciará um novo género - non-fiction novel (romance não ficcional). Capote não era modesto.

Existe também uma confiança sem limites naquilo que pensa que irá escrever. Uma certeza do sucesso e compreensão do público. É entre o egocentrismo e confiança, e a parte mais sentimental e humana da sua personalidade que gira todo o filme e é essa mutação que dá a Hoffman uma interpretação brilhante.

® João Tomé