quarta-feira, março 28, 2007

Os Amantes Regulares

Título Original:
"Les Amants réguliers"(2005)

Realização:
Philippe Garrel

Argumento:
Philippe Garrel & Arlette Langmann

Actores:
Louis Garrel - François Dervieux
Clotilde Hesme - Lilie


Cineasta veterano e nem sempre consensual, Philippe Garrel regressa em 2006 com um filme que se arrisca, tanto pela temática como pela abordagem, a situá-lo num espaço tão pessoal quanto hermético.
Crónica do quotidiano de um grupo de jovens durante e após o Maio de 68, Os Amantes Regulares apresenta uma visão pessoal, com traços autobiográficos, de um período controverso da história francesa recente, mas se a película parte de um tema com potencial os resultados são no mínimo desequilibrados e ficam aquém das expectativas.

Desnecessariamente longo e repetitivo, arrastando-se por cansativas três horas pontuadas por várias cenas de relevância discutível, o filme evidencia a espaços que Garrel tem boas ideias mas a estruturação destas corre o risco de desinteressar até o espectador mais paciente.

O tom quase documental com que são focados os actos de revolta dos estudantes nas ruas começa por ser intrigante, propondo um realismo cru e palpável, sugerindo tensão e sentido de urgência. Contudo, estes primeiros momentos do filme tornam-se incipientes quando prolongados até à exaustão, impossibilitando qualquer carga dramática devido a uma monótona e aleatória sucessão de atritos e perseguições.

Já na ressaca dos conflitos do Maio de 68, a segunda parte de Os Amantes Regulares segue a convivência de parte dos jovens revolucionários na mansão de um deles, dando particular ênfase à relação que nasce entre um poeta, François, e uma escultora, Lilie. Oscilando entre a utopia e o cepticismo, o relacionamento do jovem casal espelha o clima de ambivalência e hesitação que se disseminou após uma revolta que descoordenou ideais e motivações.
Nas cenas entre os dois amantes, Garrel consegue implementar pontuais momentos de intimismo e densidade emocional, ausentes no filme até então, mas ainda assim os protagonistas surgem quase sempre como figuras distantes e demasiado indecifráveis, e em última instância pouco envolventes.

Relato de um panorama onde o activismo é mais demonstrado do que sentido, Os Amantes Regulares acaba por fornecer uma perspectiva dos jovens rebeldes não muito diferente da de Os Sonhadores, mas onde o filme de Bertolucci oferecia uma vibrante e sedutora experiência cinematográfica, o de Garrel raramente vai além de uma pouco absorvente mediania.

A película tem os seus méritos, já que Louis Garrel, filho do realizador e, curiosamente, um dos protagonistas de Os Sonhadores, obtém aqui uma interpretação correcta na pele de François, assim como Clotilde Hesme como Lilie. A belíssima e intensa fotografia a preto-e-branco de William Lubtchanski concede às imagens uma singular energia, e alguns diálogos são inspirados e oportunos, mas mesmo estes elementos convincentes não compensam o ritmo letárgico nem a palha narrativa que Os Amantes Regulares vai acumulando, deixando-o como um rascunho do que poderia ter sido.

® Gonçalo Sá

3 Comments:

At 11:25 da tarde, Blogger P.R said...

Ora aí está um filme que tenho imensa pena de ter perdido...

 
At 10:03 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Não acho que seja uma prioridade, mas tem algum interesse.

 
At 7:10 da manhã, Anonymous Anónimo said...

No Brasil esse filme recebeu o nome de Amantes Constantes...

 

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