sábado, abril 30, 2005

Corre Lola Corre

Título Original:
“Rennt Lola” 1998

Realização:
Tom Tkywer

Argumento:
Tom Tkywer

Actores:
Franka Potente – Lola
Moritz Bleibtreu - Manni


O filme começa com duas epígrafes, como se dum livro de histórias se tratasse:

"Não terminaremos a nossa caminhada. No final dela chegaremos ao ponto de partida.
E conheceremos esse lugar pela primeira vez." T.S. Eliot

"Depois do jogo é antes do Jogo." S. Herberger

Todo o filme pode ser condensado nestas duas frases. Para quem vê o filme pela primeira vez pode não entender logo o seu sentido, mas no final fazem todo o sentido. Este é mais um filme que coloca questões de ordem filosófica. O inicio do filme, ainda antes do título aparecer, mostra alguém a percorrer a multidão que pára em frente de certas pessoas, que posteriomente se revelaram como algumas personagens do filme. Existe uma voz off que coloca as questões existenciais:

“Homem... provavelmente a mais misteriosa das espécies do nosso planeta. Um mistério de perguntas sem resposta. Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Como sabemos o que achamos que sabemos? Porque acreditamos em alguma coisa? Inumeráveis perguntas em busca de uma resposta... uma resposta que dará lugar a uma nova pergunta... e a próxima resposta dará lugar á próxima pergunta e assim sucessivamente. Mas, no fim, não é sempre a mesma pergunta ? E sempre a mesma resposta? A bola é redonda. O jogo dura 90 minutos. Isso é fato. Todo o resto é pura teoria.
Então...Acontece. “

É então que toda a multidão se junta e forma as letras do título deste filme, como se de uma ordem se tratasse: Rennt Lola! (Corre Lola!)

O filme conta a mesma história, por 3 vezes, no mesmo intervalo de tempo. A escolha da banda sonora não podia ser melhor, pois encaixa-se em perfeita sintonia em cada imagem que surge no ecrã.
Manni está envolvido com gangsters e perdeu os 100.000 marcos que deveria entregar ao seu chefe. Num ritmo alucinante, frenético e por vezes psicadélico vemos Lola a correr, pelas ruas de Berlim, na tentativa de salvar o seu namorado, mas apenas tem 20 minutos porque senão ele será morto. Ela corre contra o tempo e o tempo foge dela. Lola vai arranjar o dinheiro de qualquer maneira para impedir que Manni assalte um supermercado, ou que seja morto.


Para mim este realizador teve uma concepção cinematográfica como nunca antes vi, para cada sequência de imagens, uma técnica diferente de filmagem. A sequência da descida das escadas por Lola foi genialmente pensada ... Parte do televisor que a sua mãe está a ver, e aparece como desenho animado descendo as escadas em espiral. Lola encontra um imprevisto pelo meio e as suas diferentes reacções (em cada vez que a história é re-contada) provocam destinos diferentes.
Ao longo do filme somos constantemente assaltados por elipses temporais, tanto pelos momentos passados por Manni e Lola, como o desenvolver da vida de cada personagem com quem Lola choca no seu percurso. Nas três versões da história Lola encontra diferentes pessoas, choca com elas, comunica com elas, recebe noticias abaladoras (afinal o seu pai não era quem ela pensava) e como cada vez Lola reage de maneira diferente isso afecta o destino de cada um modificando-o. Este filme leva-nos a pensar que todas as nossas acções têm influencia sobre os outros, sejam eles muito próximos ou completos estranhos. A partir do momento que se interage com o outro já houve uma interferência e um envolver que muda o seu destino, pois se não tivesse acontecido a vida seguiria outro caminho, outro rumo.
A primeira pessoa que Lola pensa em pedir auxilio é o seu pai (que é director de um banco). As sequências passadas no escritório do pai de Lola são imagens de vídeo, parecem filmadas por um amador, como se revelasse a conflituosa relação que mantém com Lola, a sua mulher e a sua amante. Demonstram o mundo artificial que o pai de Lola criou e depois o fim desse mundo quando lhe revela que não é seu pai. Como se fosse um mundo que não interessasse, pela indiferença como o pai de Lola a trata. O seu pai não a ajuda e expulsa-a de sua vida, então Lola vai tentar arranjar outras maneiras para o dinheiro.
No 19º minuto de cada tentativa de salvação o ecrã é partilhado por Lola, Manni e o relógio, como se duma banda desenhada se tratasse. As duas primeiras histórias terminam com a necessidade que Lola sente de voltar ao início do jogo para poder modificar o seu fim. Assim ao fim de 20 minutos e de alguns minutos de lembranças do casal, a história volta ao início para que Lola consiga finalmente salvar Manni. Os caminhos são os mesmos, as pessoas que encontra são as mesmas, apenas as suas reacções e decisões mudam e isso reflecte-se no seu futuro.


Quem vê o filme simpatiza com a personagem de cabelo vermelho que tanto corre para salvar o seu amor e torce para que ela consiga salvá-lo.
Corre Lola Corre ganhou o prémio do público no festival de cinema independente de Sundance e puxou Franka Potente para a ribalta.
Este é mais um filme que entra para o top 10 das minhas preferências, por toda a sua inteligência, criatividade, vibração, velocidade e pelo inesperado. Mais uma vez estendo o tapete vermelho ao cinema europeu e independente.

® Inês Montenegro