sábado, fevereiro 11, 2006

Jarhead - Máquina Zero

Título Original:
"Jarhead" (2005)

Realização:
Sam Mendes

Argumento:
William Broyles Jr. & Anthony Swofford

Actores:
Jake Gyllenhaal - Swoff
Jamie Foxx - Staff Sergeant Sykes
Peter Sarsgaard - Troy
Lucas Black - Kruger


Quem esteve na Tempestade do Deserto, nunca sairá dela. Esta é uma das conclusões do novo filme do realizador luso descendente Sam Mendes, mas a virtude está mais na tensão no deserto de uma guerra que não chega. Bem-vindo à Nojeira.

Vamos alguma vez matar alguém? É a questão que um dos jovens marines coloca aos companheiros Jarhead – termo de origem inicialmente depreciativa com que os marines se definem e nome original da película – já para o final do filme e essa é a génese da história de guerra, onde não há guerra. O novo filme de Sam Mendes é inspirado num livro best seller do marine Anthony Swofford, em que relata a experiência «inesquecível» e desorientada que teve durante a primeira Guerra do Golfo, na operação Tempestade no Deserto. A perspectiva que o Sam Mendes parece incutir é a história menos retratada de uma guerra que foi transmitida em directo para o mundo - o José Rodrigues dos Santos deve-se lembrar bem desses momentos. Apesar de o filme mostrar mesmo situações em que os soldados são filmados pelos media, seja para enviarem mensagens para a família, namoradas, esposas e amigos, seja para retratarem o seu dia-a-dia, a mensagem parece ser clara: nem tudo o que os soldados diziam às televisões era o que sentiam (havia pressões superiores para não demonstrarem descontentamentos, tensões e angústias). Para lá das câmaras de televisão e até da verdadeira guerra, viveram-se momentos intensos e pré-guerra, uma tensão intensa de muito nada.

Embora seja um filme que se passa numa guerra, as situações retratadas são estranhas e diferentes do habitual, fazendo desta história mais sobre tensão, desespero e experiências de limite e loucura. O actor promissor Jake Gillenhal – que tem sido dos mais requisitados dos últimos tempos – dá corpo e mente a Swoff que passa de um marine ocupado com a namorada, o futuro e o emprego de militar, para uma máquina à espera de uma oportunidade para matar.
Com o começo da invasão do Kuwait pelo Iraque, Swoff é dos primeiros a partir para a Arábia Saudita depois de uma formação específica intensa, em que se tornou num atirador exímio e viu ainda um dos seus colegas morrer num exercício com munições reais.
A comandá-los está o implacável Sargento Sykes, interpretado pelo oscarizado Jamie Foxx. O início do filme faz lembrar a brutalidade militar vista em filmes como Oficial e Cavalheiro (1982). Aliás, a personagem de Jamie Foxx faz lembrar em muito, pelo menos na parte inicial do filme, o sargento negro Sgt. Emil Foley. Mas o ambiente circundante e no seio dos soldados muda radicalmente quando se entra no deserto agreste da Arábia Saudita. Nos primeiros meses os soldados vão fazendo exercícios intensos com inimigos, minas e armas imaginárias.

Depois começam a dar largas às suas explosões hormonais (com a masturbação no TOPO da lista), vão perdendo namoradas, que deixam de esperar por eles, e perdem também a sanidade mental, num ambiente de muito “nada” onde tudo é vivido com grande intensidade. O próprio Swoff entra em momentos de loucura com a falta de acção que os circunda, começa a desesperar por acção e a criar acção negativa à força, o que resulta em momentos de alteração psicológica que o leva a ameaçar de morte colegas por motivo nenhum aparente. Trata-se aqui de um herói (protagonista) que não herói, mas com quem acaba-se por simpatizar facilmente no inicio, com menor facilidade no meio e novamente com relativa facilidade no fim. Por isso mesmo não cumpre as regras de blockbusters, e ainda bem, mas mesmo assim não se trata de um filme de excepção, mas sim de um filme bem pertinente que resulta para o que se propôs, com uma realização muito competente e interpretações adequadas.
Ao lado de Swoff está quase sempre Troy, que deseja mais do que tudo ser Marine – interpretado pelo namorado da irmã de Gyllenhal, Peter Sarsgaard –, ao contrário de Swoff, que se envolve em ser Jarhead - Máquina Zero, mas deseja bem mais estar longe de tudo aquilo aliás as duas personagens variam entre a amizade e a tensão hostil um com o outro, a ilustrar os momentos de falta de lucidez que se viveram. Existe uma dicotomia entre os soldados clara, aqueles que querem mais do que tudo ser Jarheads, sentem-se alguém no meio da união, da despersonalização e código do "core", e os outros que desejam cumprir a tarefa e seguir com as suas vidas... em ambos os casos, no cenário de guerra no meio do deserto só se pensa em "Hurrah!!". Outra personagem característica dos meios de guerra ou militares é o Tenente-coronel Kazinski, interpretado pelo carismático Chris Cooper. É uma personagem típica na medida em que usa frequentemente piadas sexuais - o mais usual nestes meios - para incentivar os soldados, nomeadamente na hora de "fuck Saddam". Acaba por aparecer pouco, mas é outra personagem imprescindível que resulta.

Pior é, sem dúvida, o tédio que eles vivem, que acaba por passar um pouco para o espectador e esse é o ponto mais negativo de um filme com interpretações fortes e uma mensagem ambígua.

® João Tomé

1 Comments:

At 2:15 da tarde, Blogger gonn1000 said...

Concordo, mas acho que merece 7/10.

 

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