domingo, julho 17, 2005

Drácula, de Bram Stoker

Título Original:
"Bram Stoker's Dracula" (1992)

Realização:
Francis Ford Coppola

Argumento:
James V. Hart

Actores:
Gary Oldman - Drácula
Winona Ryder - Mina Murray / Elisabeta
Anthony Hopkins - Abraham Van Helsing
Keanu Reeves - Jonathan Harker


Incontáveis filmes e séries televisivas fizeram bem ou mal a sua abordagem a Drácula, uma das mais fascinantes e macabras criaturas do nosso imaginário de terror. Recordo-me que o mais filme mais antigo sobre Drácula, do qual vi alguns excertos, terá sido Nosferatu (1921) de F.W. Murnau. A lenda dos vampiros não é recente pois há indícios de que tenha começado nos primeiros tempos das civilizações clássicas da Grécia, bem como de Roma. Esta lenda existiu em países tão distintos como a Rússia, Alemanha, França, Turquia, Índia e China. Puxando a brasa à minha sardinha, como se diz, Drácula é o meu monstro preferido e portanto não pude deixar de comentar este filme. Realizado há mais de uma década por Francis Ford Coppola, este Drácula de Bram Stoker não perde o seu encanto, embora talvez tenha passado um pouco despercebido entre o grande público.

Devido ao facto de outro estúdio cinematográfico possuir os direitos do título Drácula, o título deste filme teve de incluir o nome de Bram Stoker (1847-1912) escritor irlandês que em 1897 escreveu Drácula. Este é um dos raros casos de adaptações cinematográficas baseadas em livros em que primeiro li o livro e só algum tempo depois vi o filme. Deste modo pude, na primeira de algumas vezes em que este filme passou na televisão portuguesa, constatar que o argumentista James V. Hart teve o cuidado de pegar na história de Stoker e ser-lhe fiel, porém ao mesmo tempo aproveitar a verídica lenda do príncipe Vlad (século XV, conhecido por empalar os seus inimigos e beber o seu sangue), tal como Stoker e acrescentar-lhe uma história de amor que o livro não aborda, mas sem a qual o filme pecaria por monotonia. Considero este filme de Francis Ford Coppola uma fervorosa versão da história de Drácula bem adaptada do livro, sem deixar a personagem cair no ridículo, como tantas vezes tem acontecido, e explorando a história sabendo como conjugar os elementos de terror e violência.


Numa espécie de prólogo é-nos contada a história do príncipe Vlad, um guerreiro cuja família formara a Sagrada Ordem de Dracul (que significa dragão) para combater os infiéis turcos que ameaçavam o mundo cristão. Tendo perdido uma batalha, os vingativos turcos disparam uma seta para o castelo com uma falsa notícia que dava conta da morte de Vlad e a princesa Elisabeta, sua noiva, atira-se ao rio. Quando Vlad chega ao seu castelo e se depara com o corpo inerte da sua amada no chão diante do altar, renega Deus e jura vingar-se a morte da sua amada. Transforma-se então numa sanguinária criatura da noite.


A história dá um salto no tempo e quatro séculos depois, a acção localiza-se no ano de 1897 em Londres. Tal como no livro, no filme as personagens guiam-nos na história através dos acontecimentos que registam nos seus diários. O primeiro diário no livro e no filme é o de Jonathan Harker, um jovem advogado que parte em viagem para uma obscura Europa de Leste, mais propriamente pelas montanhas dos Cárpatos, com destino à Transilvânia, onde fica o castelo do excêntrico Conde Drácula, que pretende comprar algumas propriedades em Londres. Ao ver um retrato de Mina Murray (Winona Ryder numa boa interpretação dos seus bons velhos tempos de estrela em ascensão), a noiva de Harker, Drácula apercebe-se de que esta é a reencarnação da sua amada Elisabeta e decide partir para o seu encontro em Londres, deixando um rasto de sangue e morte durante a sua viagem e Harker entregue às suas três belas companheiras sanguinárias de dentes ponteagudos. As breves cenas que envolvem estas personagens revestem-se a princípio de um erotismo muitas vezes sublinhado quando se fala neste filme, por vezes exageradamente.


Gary Oldman brinda-nos com uma excelente interpretação de Drácula, que na minha opinião é a melhor até agora. A notável caracterização desta personagem, a cargo de Greg Cannom, Michèle Burk e Matthew M. Mungle, que oscila entre um rosto envelhecido (a sua forma real) e um rosto jovem (o seu disfarce quando procura Mina), foi premiada com um Óscar. É-nos apresentado por um lado um Drácula vingativo, monstruoso e cruel quando seduz e acaba por matar Lucy Westenra (Sadie Frost), a melhor amiga de Mina e por outro lado um Drácula capaz de amar e que, ao reencontrar o seu grande amor, se apercebe da insuportável solidão da sua existência eterna e sombria.


Jonathan Harker e os seus amigos, dos quais se destaca o sarcástico Professor Van Helsing, caçador de vampiros, personagem interpretada de forma um tanto diferente em relação à do livro, não olharão a esforços para combater Drácula e salvar Mina. Serão bem sucedidos nessa perigosa missão? Terão de ver o filme, se ainda não o fizeram. Sobre o final apenas posso dizer que difere do final do livro, mas esta história onde o terror e o amor se misturam, de outra forma não poderia terminar.


Gostaria, por fim, de destacar as memoráveis cenas do louco Mr. Renfield (Tom Waits) no asilo do Dr. Seward (Richard E. Grant), impaciente pela chegada do seu “mestre”; os cenários que as personagens atravessam ao longo do filme estão bem concebidos, por vezes com um céu vermelho de sangue, dão mostras do bom trabalho de fotografia de Michael Ballhaus; o guarda-roupa e os efeitos sonoros especiais saltam à vista e foram premiados com dois Óscar respectivamente; as interpretações do notável elenco (que para variar foi esquecido pela Academia de Hollywood) foram boas à excepção talvez de alguma inexpressividade de Keanu Reeves (então ainda pouco conhecido e pouco experiente); o tema Love Song for a Vampire escrito e interpretado por Annie Lennox, retrata a agonia de um amor amaldiçoado que sobrevive aos «oceanos do tempo». Um filme a ver, mais que não seja pelo facto de fazer parte da extensa lista do excelente livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer, da editora Dinalivro.

® Isabel Fernandes

4 Comments:

At 12:39 da tarde, Blogger Daniel Pereira said...

É dos filmes que gosto menos do Coppola. "Nosferatu", que é de 1922 e não de 1921, é que, sim, me enche as medidas - uma verdadeira obra-prima.

 
At 9:21 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Também gosto muito do "Nosferatu", um verdadeiro clássico do terror.
Mas também tenho o Dracula de Coppola em grande atenção: mais romanceado, mais carnal... Claro que está longe de qualquer filme de Coppola nos anos 70 e alguns dos anos 80, todavia, será, a meu ver, a sua segunda melhor obra na década de 90- só "The Godfather: Part III" o consegue suplantar.

Cumprimentos

 
At 12:59 da manhã, Blogger Daniel Pereira said...

Até acho o "Nosferatu" muito mais romântico por acaso... :)

Em relação ao Coppola, a década de 90 foi o seu declíneo. "Jack" e, quem diria, uma adaptação de John Grisham não fazem moça a "The Godfather - Part III".

 
At 7:20 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É um clássico :)!

Cumps. cinéfilos

 

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