terça-feira, setembro 20, 2005

O Quarto do Filho

Título Original:
"La Stanza del Figlio" (2001)

Realização:
Nanni Moretti

Argumento:
Nanni Moretti, Linda Ferri & Heidrun Schleef

Actores:
Nanni Moretti - Giovanni
Laura Morante - Paola
Jasmine Trinca - Irene
Giuseppe Sanfelice - Andrea


O Quarto do Filho conta a história da dor que atinge uma família de classe média italiana, constituida por os quatro membros inicialmente. O pai, Giovanni, é um psicanalista que no emprego escuta e aconselha os seus clientes sobre os medos e fobias que estes têm, e que em casa, no seu lar, encontra na família a harmonia e a normalidade que o oposto da sua profissão exige. A esposa, Paola, é uma mulher segura e confiante que trabalha como editora de livros, e que ainda divide o tempo entre dona de casa e mãe dos dois filhos do casal: o recatado Andrea e a atleta Irene.
Um dia, durante um fim-de-semana, Giovanni combina com Andrea irem fazer jogging durante o dia de modo a passarem algum tempo juntos, mas um inesperado telefonema de um paciente do psicanalista altera o plano dos dois. Giovanni mete a profissão à frente da família por uma questão de horas, e desloca-se então até à casa do cliente de modo a "socorrer" o problema deste. Andrea, que entretanto aproveitou a mudança de planos para ir fazer mergulho com os amigos, acaba depois por falecer no fundo do mar devido a uma embolia. A partir desse momento uma dor intensa atinge aquela família, e ela acaba por consumir silenciosamente auqelas pessoas, uma por uma ...

Conhecido por colocar diversas referências autobiográficas nos seus trabalhos cinematográficos, Nanni Moretti fugiu à regra em O Quarto do Filho e apresentou desta vez um filme com uma forte análise de um tema que não lhe é pessoal, mas que diz respeito a toda a humidade em geral, como é a perda de um ente querido (neste caso a morte de um filho).

O Quarto do Filho (vencedor da Palma de Ouro e o Prémio FIPRESCI na 54ª edição do Festival de Cannes) apresenta um interessante testemunho fictício de uma família que perde um membro, e do triunfo da dor sobre cada um deles, tanto em grupo como isoladamente. Através de um enredo distante de qualquer tentativa de criar uma película complexa (e cansativa) para o espectador, Nanni Moretti construiu aqui um filme que se estende de maneira simplista por esse campo minado que é a morte de um familiar, mostrando como pouco a pouco cada um dos familiares da vítima vai desmoronando com o intensificar da saudade e do desgosto. Ainda que a personagem de Andrea não fosse um dos pilares da estrutura familiar (do filme), a mágoa, o sofrimento e a sensação de vazio por parte da irmã e dos pais perante a morte do filho, são aspectos extremamente bem conseguidos na película, em parte devido ao modo como a narrativa está construída, seguindo uma ordem de acontecimentos de convivência e isolamento entre os personagens centrais, mas principalmente devido à excelente representação do núcleo principal de actores. Tudo isto em equilíbrio com a honestidade que o filme tem para com o seu tema central, fazem de O Quarto do Filho uma obra bastante realista a nível de história e de emoções, que além de explorar o tema da morte de um ente querido, analisa ainda questões como a confiança, a esperança, problemática da psicanálise, a relação médico-doente, a impotência sentimental e logicamente a amizade e conecção existente entre pais e filhos.
O único senão do filme ocorre talvez com a inserção da personagem Arriana quase no final da obra, que em pouco ou nada vem contribuir para o desenrolar do argumento. A história tinha material suficiente para resultar sem a participação da jovem, que em parte funciona apenas como uma transição desnecessária entre o desenvolvimento e o final do filme.

Apesar de não ser uma das obras mais intensas que o cinema já apresentou sobre a perda de um ente querido, O Quarto do Filho consegue destacar-se por ser uma história tocante que transparece eficazmente a sua mensagem de dor e tristeza familiar, em muito devido à quase ausência de trabalhados mecanismos influenciáveis no filme como é o caso do guarda-roupa, fotografia e banda-sonora (destaque para a belíssima By This River de Brian Eno), que de certo modo são aspectos que acabam sempre por forçar uma tristeza no ambiente de um filme dramático, ainda que a narrativa a isso não conduza. Porém, e felizmente, esse não é o caso de O Quarto do Filho, pois o filme sobrevive sem a ajuda desses mecanismos, e consegue aguentar-se enquanto retrato cru e realista do impacto que a morte tem numa família unida, sendo isso mostrado sem qualquer toque de melodrama ou de "truques cinematográficos" que serviam de alavanca para despertar sentimentos no espectador. Muito longe disso, e devido ao facto de ser um filme somente sobre a natureza humana, O Quarto do Filho sensibiliza principalmente pela sua simplicidade desfolhada e exposta. Um modo peculiar de se fazer cinema e um exemplo de como todos os filmes que falam de sentimentos sempre deviam ser.

® Fábio Guerreiro

1 Comments:

At 12:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

apens para corrigir a alavra conecção, o correto é conexão.

 

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