sábado, janeiro 20, 2007

Babel

Título Original:
"Babel" (2006)

Realização:
Alejandro González Iñárritu

Argumento:
Guillermo Arriaga

Argumento:
Brad Pitt - Richard
Cate Blanchett - Susan
Gael García Bernal - Santiago
Kôji Yakusho - Yasujiro


O mais recente sucesso cinematográfico do mexicano Alejandro González Iñárritu (21 Gramas, Amor Cão) tem, desde a sua ante-estreia, atingido níveis de popularidade à escala planetária. Até porque Babel é, de resto, um filme também ele planetário – a acção, como não poderia deixar de ser, passa por pessoas e locais diferentes, mas desta vez eles não estão tão próximos assim.

Japão, Marrocos, México, E.U.A.: uma adolescente carente e promíscua perdida na solidão de uma grande cidade e da sua surdez e mudez; um casal em crise conjugal que viaja por Marrocos, até que um tiro acidental disparado por uma criança atinge a mulher e obriga ambos a unirem-se mais, levando por outro lado uma família à ruína graças a um acidente mal medido; uma ama dedicada que leva as crianças à sua guarda para o México como forma de não perder o casamento do seu filho, mas que acaba perdida com eles no deserto mexicano e se vê, mais tarde, deportada para o seu país de origem. Crise, amor, ruína – de onde nos são tão familiares estes termos, senão em todos os filmes de Iñárritu?

Pois bem, Babel vem mais uma vez trazer essa noção tão inexorável de destino que nos engole quando menos esperamos, de causa e consequência, de como uma formiga se pode transformar num elefante – ou seja, de como uma bala perdida arrecada a inocência de duas crianças, rouba o descanso a uma humilde família, dá a umas férias exóticas um sentido diferente, envolve um homem que está geograficamente bem longe num crime e, por último, ensina a uma mulher sacrificada que não poderia ter cometido aquele deslize inocente. Simples? Não, jamais é ou foi simples o cinema deste realizador que tem caído, aos poucos, nas graças de Hollywood – ainda que, desta vez, possa estar a acontecer uma excessiva acumulação de louros em torno da obra (será devido à presença das estrelas que não constavam das outras fichas técnicas?), o que já deveria ter acontecido com o seu primeiro trabalho: Amores Perros. Efectivamente, não se retire o mérito ao trabalho de Iñárritu e Guillerno Arriaga (argumentista), nem tão pouco ao dos actores, que cumprem bem a sua parte neste Babel; mas o nome, todo o falatório e tanta elevação faziam antecipar uma obra-prima que, definitivamente, não encontramos.

Há um filme sui-generis, a beirar o documentário cultural em muitos momentos; uma boa banda sonora; um intercâmbio de ideias e interligações interessantes; representações bastante convincentes em geral, destacando-se os actores marroquinos (presumivelmente estreantes), Adriana Barraza (a ama Amélia) e Rinko Kikuchi (a adolescente Chienko). Brad Pitt, no papel de Richard (o marido em sofrimento pelo estado da mulher alvejada, Cate Blanchett) não se eleva assim tanto, limitando-se a encarnar o drama como tantas vezes já fez e com mais possibilidades de preenchimento do que aqui se lhe apresentam… e recuso aqui a afirmação de que este é um dos melhores desempenhos da sua carreira (se assim fosse, o que faríamos do seu preenchido e sólido percurso até hoje).

Assim sendo, Babel tem o cunho único do seu criador (que, finalmente, pôs de parte os acidentes de automóvel como factor de ligação, passando às balas perdidas), mas parece representar um novo começo na sua carreira, alargado a outras paragens mas ainda sem a devida maturidade que o projecto em causa exigiria. Os elementos não deixam de estar bem encadeados, e os saltos temporais também lá estão para fazer o puzzle (que aqui nem é tão complexo assim), mas o filme torna-se por vezes morto e alguns acontecimentos parecem ter de se ligar à força - quando o essencial é, passe o pleonasmo, a essência (a família? A solidão? O sacrifício?).

Sem dúvida que é fácil acreditar que todos estamos ligados nesta corrente universal, mas unir Marrocos ao Japão nem sempre se revela convincente apenas pela simples passagem de imagens na televisão ou pela notificação de um homem que acaba por ser dispensado pelo polícia misericordioso. Assim como seria toda a obra mais convincente se se tivesse concedido um pouco mais de espaço de manobra aos intervenientes.

Muita gente vs. desenvolvimento incipiente de alguns personagens, ideal do sacrifício vs. exagero do “castigo” ou, por outro lado, leveza demasiado fácil da pena a cumprir; histórias bem doseadas vs. resultado final que não aparece como um todo, e sim eventualmente como várias curtas- metragens unidas por um ou outro factor comum. Ainda assim, realista q.b. e recomendável…é claro.

® Andreia Monteiro

5 Comments:

At 12:27 da manhã, Blogger Isabel said...

Vi dois filmes de A.G. Iñárritu: Amor Cão e 21 Gramas, li numa revista que Babel como que encerra a trilogia dessa temática que mencionas:crise-amor-ruína, concordo que podemos encontrá-la com facilidade nos filmes. Mas será que Babel foi mesmo realizado para ser uma obra-prima? Ou terá sido realizado para deixar uma marca na consciência das pessoas, como um filme que toca em feridas abertas não só nos países onde decorre a acção, mas no resto do mundo? Parece estar a tornar-se uma espécie de "moda" os filmes da categoria "denúncia social", o que é positivo, na minha opinião.
Tenho a certeza que não te arrependeste de estar 145 minutos na sala de cinema, porque este filme, ainda que não sendo uma obra-prima, como dizes, vale a penar ver e sobretudo reflectir.

cumprimentos, Isabel Fernandes

 
At 1:10 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Isabel: é claro que não me arrependi de ver este filme, até porque se assim fosse não lhe dava a nota de 7/10. Acho que é um belo filme, mas sendo admiradora confessa de Iñarritú sou também mais crítica em relação ao seu trabalho, e acho que Babel não é tão forte quanto Amor Cão, por exemplo. Para as temáticas abordadas, considero simplesmente que falta profundidade, que poderia existir mais em vez da concentração e da obsessão em unir histórias passadas em diferentes continentes. Não é só com uma andorinha que se faz a Primavera...

Abraço.

 
At 2:43 da tarde, Blogger Nia said...

Eh pah, peço desculpa mas este filme foi uma desilusão tão grande que mal consigo compreender porquê. O facto de estar nomeado para oscar de melhor filme só se explica pelo tema: a globalização não passa de uma ilusão, somos todos humanos mas uns ainda vivem do pó, somos todos carentes mas outros ainda se refugiam na promiscuidade, somos todos sofredores mas muitos ainda fogem de si próprios.
Enfim, não gostei do filme, mas também não gostei do Million Dollar Baby nem do Mystic River... ou seja, o meu afecto pelos filmes é mais romântico que outra coisa (Eternal Sunshine, The Village, etc).
Saudações cinéfilas e caso alguém lhe interesse, fica o meu blog (O Cinema e o resto...): memoriadeelefanta.blogspot.com
Nia

 
At 6:20 da tarde, Blogger Ricardo Lopes Moura said...

Nia, concordo contigo que o Babel foi uma desilusão confrangedora, mas tiras-me o tapete da simpatia quando o colocas no mesmo saco que as obras primas de clint eastwood mystic river e million dollar baby, que são realmente... obras primas.

sim, claro quie te espreitarei no teu blog. já agora, imita-me.

 
At 11:29 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Ricardo, qual é o blog? (o link não dá acesso ao site)

 

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