quarta-feira, agosto 29, 2007

Viúva Rica Solteira Não Fica

Título Original:
"Viúva Rica Solteira Não Fica" (2006)

Realização:
José Fonseca e Costa

Argumento:
José Fonseca e Costa & Augusto Sobral

Actores:
Bianca Byington - D. Ana Catarina
Cucha Carvalheiro - Mariana
José Raposo - Abade
Rogério Samora - Capitão Malaparte
Ricardo Pereira - Adriano

Filme de época ambientado num Portugal rural de meados do século XIX, "Viúva Rica Solteira Não Fica" é uma comédia negra que se concentra nas peripécias de uma jovem viúva brasileira, cuja fortuna vai crescendo à medida que os seus sucessivos maridos vão falecendo.

De tom ligeiro e espirituoso, a mais recente película de José Fonseca e Costa ("Kilas, o Mau da Fita", "A Balada da Praia dos Cães") lança um olhar que se pretende corrosivo sobre a aristocracia, a religião e os costumes de outros tempos - embora com algumas observações ainda válidas para os dias de hoje - definindo um núcleo de personagens onde cedo se percebe que quase nenhuma é inocente, sobrando no final aquelas cuja argúcia e sentido de oportunidade lhes permite prosperar.

Longe de inovador, apostando num trabalho de realização competente mas sem rasgos e num argumento simples e linear, o filme vale por conseguir funcionar enquanto entretenimento minimamente inteligente e acessível, aspecto que, se não o torna num objecto marcante, também não é negligenciável tendo em conta o cinema que se faz por cá.

Fonseca e Costa acerta ainda na direcção de actores (Bianca Byington, Cucha Carvalheiro, José Raposo e Rogério Samora cumprem, Ricardo Pereira não destoa e apenas Diogo Dória falha no tom, adoptando uma postura demasiado teatral) e na reconstituição de época, mais modesta do que pomposa mas que serve sem reparos as necessidades da história, contudo não apresenta um equilíbrio tão coeso no argumento, que a partir de certo ponto se torna redundante e leva a um desfecho nada surpreendente.

Os diálogos, não sendo de desprezar, também não são tão irónicos nem mordazes como se esperaria, e as personagens nunca conseguem soltar-se de uma caracterização, no máximo, bidimensional.

Tendo em conta estes desequilíbrios, o filme dificilmente mantém o entusiasmo do espectador ao longo das suas mais de duas horas, uma duração claramente excessiva para um material tão limitado, ainda que curioso. Mesmo assim, é mais interessante do que "O Fascínio", a desapontante obra anterior de Fonseca e Costa, e num ano em que outros "autores" nacionais se mostraram pouco ou nada inspirados (como Fernando Lopes em "98 Octanas" ou Pedro Costa em "Juventude em Marcha"), "Viúva Rica Solteira Não Fica" consegue gerar, pelo menos, alguma simpatia e não desmerece um visionamento.



® Gonçalo Sá