quinta-feira, novembro 24, 2005

O Crime do Padre Amaro

Título Original:
"O Crime do Padre Amaro" (2005)

Realização:
Carlos Coelho da Silva

Argumento:
Baseado no romance homónimo de Eça de Queirós

Actores:
Jorge Corrula - Padre Amaro
Soraia Chaves - Soraia Chaves
Nicolau Breyner - Cónego Dias


Nas salas de cinema há algumas semanas, O Crime do Padre Amaro mostra-se em versão portuguesa pela câmara de Carlos Coelho da Silva, estreante. Adaptado do livro de Eça de Queirós, aqui a versão é contudo bem diferente.

Jorge Corrula, que nos habituou a prestações sobretudo em telenovelas, foi o escolhido para interpretar a figura do polémico Padre Amaro, pároco às voltas com (muitas) tentações e rodeado de corrupção e pecados capitais.
Depois da última versão cinematográfica do livro de Eça de Queirós - mexicana, razoavelmente protagonizada por Gael Garcia Bernal-, Carlos Coelho da Silva estreia-se nas lides em questão com este filme onde o propósito passa por um plano intermédio entre o chocar e o mostrar. Efectivamente, o realizador agarra-se à imagem e fá-la valer mais do que mil palavras: em suma, o espectador deduz, julga, vê o que quer e o que não quer ver.

Um bairro suburbano bem conhecido (Casal Ventoso, em Lisboa); rappers em conflito constante e gratuito; famílias desfavorecidas protegidas pela Paróquia (devidamente recompensada, claro está); mães solteiras; actividades duvidosas. Este é o cenário encontrado pelo novo padre, o jovem Amaro, que mal chega é alojado numa espécie de casa ou abrigo do pecado - não bastasse já a sua parca vocação, evidenciada pelos frequentes sonhos eróticos (acordado ou a dormir, dos quais o realizador usa e abusa), que o perturbam desde a infância.
Acontece que a filha da dona da casa, Amélia (Soraia Chaves, o monumento de que tanto se fala), uma jovem perita na arte da sedução, alicia o padre já de si tentado, e o envolvimento escaldante entre ambos torna-se demasiado inconveniente: ela apaixona-se, engravida...e o resto, fica para ver.

Com tanto pecado, este O Crime do Padre Amaro não poderia deixar de manter a polémica que acompanha a obra desde o exemplar literário: no caso português ainda mais do que no mexicano, já que as cenas de sexo, por exemplo, são exploradas exaustivamente e acabam por encerrar todo o filme, fazendo o resto parecer supérfluo num argumento que também não é muito rico. Não que a premissa e o ambiente criado não sejam propícios (a adaptação à realidade portuguesa está bem perspectivada, bem como os elementos presentes), só que simplesmente eles não são devidamente aprofundados e o que fica é uma sensação demasiado light, de um filme que não entretém e que só emociona um pouco mais lá para o final. Os desempenhos para tal contribuem, igualmente: Jorge Corrula não é lá muito convincente na súbita mudança de bonzinho inocente e caído nas malhas do amor para crápula insensível; a Soraia Chaves não é exigido muito além da exibição dos seus dotes físicos, e é só mais tarde que revela o lado emocional da sua personagem - aí sim, conseguimos estabelecer alguma sintonia com Amélia, que de objecto sexual passa a vítima ingénua, e mais convincentemente até nesta transformação que o seu principal parceiro de cenas.

De resto, Diogo Morgado e Rui Unas definem, mesmo que excessivamente caricaturados, os momentos mais cómicos da película, e Nuno Melo encarna bem o vilão sentimental. Já as restantes "vedetas", como Hugo Sequeira, Pedro Granger ou as apresentadoras de televisão Cláudia Semedo e Ana Marques, revelam-se demasiado planas, parecendo apenas desfilar para que o público as reconheça de outras áreas e empatize com elas. Mas, se há coisa com que este filme pode contar, é com fortes presenças - Rogério Samora, José Wallenstein, Nicolau Breyner, Lourdes Norberto, João Lagarto são apenas exemplos de actores já bem firmados, que constituem porém um grupo demasiado extenso para aquilo que se quer contar, acabando por ser sub-aproveitados.

O resultado de tudo isto é um filme que se vê, mas que não deixa marcas especiais: bem filmado, bem imaginado...mas...fica o resto por cumprir. Talvez a conversão em série televisiva, planeada para breve, lhe dê mais consistência.

® Andreia Monteiro

1 Comments:

At 12:37 da manhã, Blogger emot said...

Detestei este filme. Para mim, um dos piores do ano...

 

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