terça-feira, abril 11, 2006

O Fascínio

Título Original:
"O Fascínio" (2003)

Realização:
José Fonseca e Costa

Argumento:
José Fonseca e Costa, Tabajara Ruas & João Constâncio

Actores:
Vítor Norte - Lino Pais Rodrigues
Sylvie Rocha - Encarnacion
José Fidalgo - Bernardo
Ana Moreira - Blanca


Adaptado de um livro de Tabajara Ruas e realizado por José Fonseca e Costa, O Fascínio é o típico drama pleno de mistério a que o realizador já nos habituou. Um misto interessante de thriller à portuguesa com suspense fantasmagórico.

Num dia como outro qualquer, Lino Paes Rodrigues (Vítor Norte), empresário imobiliário, chega ao seu escritório e surpreende-se ao abrir uma carta pessoal que lhe dá a notícia de uma herança deixada por um tio-avô que falecera: a Herdade da Conceição, uma vasta área de terras que dará o mote para uma série de acontecimentos estranhos e perturbantes.
Tudo começa quando, a partir de uma certa indiferença inicial, Lino se deixa obcecar por todas as memórias e personagens do passado associados à propriedade, que se tornara num local sinistro e praticamente abandonado onde apenas fantasmas de acontecimentos dramáticos e pessoas vagueiam. Fascinado e ao mesmo tempo atemorizado pelas súbitas mudanças ocorridas na sua vida, Lino passa a centrar-se nesse refúgio e o que começa com uma série de visões e alucinações acaba por transformar-se num comportamento criminoso e pouco ortodoxo, onde se perdem os contornos de quem é quem e fez o quê.

Com argumento de José Fonseca e Costa (A Balada da Praia dos Cães; Cinco Dias, Cinco Noites), em conjunto com João Constâncio, O Fascínio é uma interessante perspectiva daquela que pode ser uma das vertentes desse sentimento que dá nome ao filme, quase abeirando-se de uma faceta trágica onde vidas e tempos se entrecruzam e as mesmas histórias se repetem inexoravelmente, rumo à destruição – ainda que sem se saber muito bem porquê. Sem dúvida que, nesse campo, o argumento é promissor e a abordagem incomum, daí que o filme consiga cativar o espectador e arrastá-lo no trilho do suspense e da ansiedade psicológica provocada por certas personagens – como a de Ana Moreira (Blanca), simplesmente fantasmagórica e intocável.

Povoada por bons desempenhos, como o de Albano Jerónimo (vilão e transsexual, duas personagens opostas num mesmo actor) ou Vítor Norte, que consegue transparecer bem tanto o medo como a obsessão criminosa, a película de Fonseca e Costa deixa no entanto algo a desejar no que toca ao desenvolvimento de alguns personagens (há demasiados actores, muitos deles subaproveitados em aparições flash – como Paulo Pires-, além do sotaque irritante de Custódia Gallego, que não se percebe para que foi ali colocado daquela maneira), bem como na explicação da história, que frequentemente se torna pouco credível e deixa algumas pontas soltas (como é que o desinteressado filho de Lino, interpretado por José Fidalgo, de repente se converte em segundo “fascinado” e em cúmplice de crimes? e como explicar o final romanesco de Lino?).

Assim sendo, O Fascínio é um filme interessante q.b., mas que poderia ter sido explorado com maior perfeccionismo. Em questões de imagem, fotografia e montagem pouco há a apontar e existem belos momentos filmados ao milímetro, como a cena do baile ao início e a ligação entre as personagens de Sylvie Rocha e João Catarré (a tetravó de Lino e o seu amante, um oficial espanhol, cuja história de amor proibida despoleta toda a trama); também a alternância de papéis entre o passado e o presente de Lino consegue convencer. Contudo, digamos que este não é um filme fácil para almas racionalistas, já que não se percebe de onde vem esse “fascínio” e como as suas consequências são encaradas com ânimo demasiado leve, já que no final o efeito policial indiciado é inexistente, e apenas resta o mistério…

® Andreia Monteiro

1 Comments:

At 2:57 da tarde, Blogger gonn1000 said...

Pouco fascinante.

 

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