domingo, agosto 14, 2005

Realizador da Semana: Akira Kurosawa

Akira Kurosawa é considerado unanimemente como um dos últimos grandes mestres, um dos incontestáveis gigantes e um dos maiores génios que o cinema possuiu. Nascido a 23 de Março de 1910 em Tóquio, o realizador nipónico tornou-se pintor primeiro, mas num curto período de tempo, dada a sua escassez financeira.

Quando enveredou pelo cinema, Kurosawa colheu inúmeras influências – que se viriam a revelar altamente recíprocas – ocidentais, de que são exemplo Shakespeare, Dostoyevsky ou John Ford, sua principal e seu ídolo. De acordo com a sua família, o japonês respirava cinema quase não pensando em mais nada. Até em casa, este sentava-se silenciosamente, aparentemente compondo cenas na sua cabeça.

E foi esta sua obsessão que o levaria a criar várias obras-primas, muitas absolutas, muitas verdadeiros marcos da sétima arte, tais como o vencedor do Leão de Ouro em Veneza Rashomon – Às Portas do Inferno, um estudo da relatividade da verdade, com quatro visões sobre uma violação e um assassinato; o pessoalíssimo Ikiru, a história de um homem que, ao saber que está a morrer de cancro, tenta encontrar um significado na sua vida; Os Sete Samurais, a sua obra mais conhecida e um dos mais estimulantes filmes de acção de sempre; Throne of Blood, assustadora e sensacional reinterpretação da célebre peça Macbeth de Shakespeare adaptada ao Japão medieval; Yojimbo, uma violenta e satírica reviravolta nas convenções ocidentais. Ano de 1971 e Kurosawa, deprimido, tenta suicidar-se, mas sem êxito felizmente, o homem ainda tinha tanto para dar ao Mundo e duas enormíssimas provas são Dersu Uzala – A Águia da Estepe e Ran – Os Senhores da Guerra. A primeira, uma história de grande humanismo e beleza, vencedora do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, a segunda, uma brilhante recriação da peça Rei Lear de Shakespeare reveladora da incontornável mestria do japonês em filmar samurais atormentados no meio do caos.

“O cinema é uma coisa maravilhosa, mas captar a sua real essência é muito, muito difícil”. Palavras sábias de alguém que sabe do que fala.

® Artur Almeida

10 Comments:

At 3:56 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Seven Samurai- melhor filme de sempre?

 
At 11:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pois, eu reparei no teu entusiasmo extremo no forum quanto a ele:)

Dos que vi do Akira, o meu preferido é mesmo o Ran, obra-prima absoluta. Seven Samurai é a minha maior falha na sua filmografia...

PS: acho que o Sonhos merecia mais carinho...

 
At 2:20 da tarde, Blogger Daniel Pereira said...

Eu vi o excelente Rashomon e o Sonhos que, sinceramente, não me entusiasmou muito.

 
At 3:54 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Rashomon é outra falha colossal que tenho.
E compreendo inteiramente que o Sonhos seja visto como um filme menor do Akira, mas mesmo assim...

 
At 5:16 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Já ouvi falar do nome deste realizador, mas infelizmente não conheço a sua obra. Contudo fiquei interessado em tentar encontrar alguns dos filmes mencionados. Concordo inteiramente com a citação, o cinema envolve uma teia de complexidades e subjectividades que nem todos entendem e por isso nem sempre quem merece realmente algo é recompensado.

 
At 2:12 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Kurosawa é simplesmente obrigatório, antes de mais.
Quanto à citação, vê-se bem a Dificuldade que Kurosawa sentia em captar a real essência que tanto queria para os seus filmes. E isto não é apenas modéstia de um génio...
E já agora, o captar da real essência é simplesmente o objectivo normalissimo de um génio... que se tornou destino? Com isso das complexidades e subjectividades do cinema, é realmente muito dificil de especular, mas Kurosawa foi sim recompensado e sem nunca gozar o público. Os títulos "1 dos últimos grandes mestres, 1 dos incontestaveis gigantes e 1 dos maiores génios que o cinema possuiu" falam por si.

Cumprimentos

 
At 1:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Bem, aproveito para dizer que a partir de agora (dia 17) até dia 25 estarei de férias no Porto, por isso, boa continuação de férias para todos e até daqui a 8 dias.

Passem bem:)

 
At 2:29 da tarde, Blogger gonn1000 said...

Boas férias, Artur, tens direito a elas depois do trabalho que tens feito aqui ()

 
At 11:09 da tarde, Blogger Álvaro Martins said...

Grande realizador, mas não o meu preferido. contudo, acho que além de todas as obras primas deste senhor que foram aqui mencionadas, ficou por mencionar aquela que é a minha preferida, a sua última obra, Madadayo(Ainda Não), que é uma admirável reflexão sobre a alegria de viver,ensinar e envelhecer.

 
At 10:00 da manhã, Blogger Unknown said...

«A Sombra do Guerreiro», estreou, na altura, no cinema Londres. Acho que no início dos Anos 80 e apareceu na Imprensa Diária, não posso precisar qual jornal, uma crónica de um gajo, Stau Monteiro, muito engraçado e lisboeta puro, a dizer mais ou menos isto: "... que todos os realizadores do cinema português, sem excepção, deveriam tirar bilhete no Londres para um mês e ver este filme, todos os dias, três vezes ao dia, para aprenderem como se faz bom cinema..."
Penso que esta crónica diz tudo do todo Akira.

zé do laranjeiro

 

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