sábado, junho 10, 2006

Capitães de Abril

Título Original:
"Capitães de Abril" (2001)

Realização:
Maria de Medeiros

Argumento:
Maria de Medeiros & Ève Deboise

Actores:
Stefano Accorsi - Maia
Maria de Medeiros - Antónia
Joaquim de Almeida - Gervásio
Frédéric Pierrot - Manuel


Verdadeira miscelânea de nacionalidades, Capitães de Abril faz parte da biblioteca de filmes portugueses históricos a revisitar. Embora não seja particularmente fenomenal.

Co-produção portuguesa, italiana, francesa e espanhola e segundo trabalho de Maria de Medeiros como realizadora (o primeiro foi A Morte do Príncipe, em 1991), Capitães de Abril é um daqueles filmes que já fazem parte da tradição televisiva a cada aniversário do 25 de Abril de 1974 – talvez por ser dos poucos ex-libris cinematográficos nacionais acerca desta data. No entanto, aparte esse estatuto a timidez desta obra é evidente, pois pode dizer-se que ela quase não consegue tocar o espectador: os desempenhos, mesmo que bons ou razoáveis, não transmitem a intensidade nem a emoção necessária, e isso pode mesmo dever-se, em grande parte, à miscelânea cultural anteriormente referida. É que Medeiros chamou vários actores estrangeiros para protagonizarem o filme (como o italiano Stefano Accorsi, na pele do Capitão Salgueiro Maia, ou o francês Frédéric Pierrot, como Manuel), e esse foi o seu maior pecado. Isto porque, embora seja inegável o seu carisma - particularmente o de Accorsi como venerado e herói Maia -, a dobragem para português é uma nódoa no trabalho realizado e lembra-nos constantemente que a realidade está bem ali, e, então, como embrenharmo-nos em todo o aparato e sentimentalismo que caracterizou a conquista da liberdade e da democracia nacionais?

É certo que, segundo a História, o 25 de Abril não implicou tanto conflito ou oposição quanto seria de esperar; porém, em Capitães de Abril, e salvo raros momentos, toda esta luta soa demasiado fácil, e daí que todo o filme seja morno e incipiente, com passagens que parecem demasiado forçadas e romanceadas (como os romances entre Rosa e Daniel ou Antónia e o seu aluno preso pela PIDE) e, sobretudo, colocadas como auxiliares de entusiasmo pela história narrada, ficando em dúvida a sua veracidade.

Dentro destes aspectos excessivos, conta-se ainda a presença de inúmeras caras ilustres, como a de Ruy de Carvalho como General Spínola ou Canto e Castro como Salieri, dirigente da PIDE, que integram um elenco grande demais para o que se quer contar: Sérgio Godinho, José Jorge Letria ou António Vitorino d’Almeida são outros nomes famosos que dão cara à representação, mas aparecendo em momentos tão fugazes que nos perguntamos para quê tantas celebridades a fazerem de figurantes? Na verdade, estes aspectos apenas servem para nos distrair daquilo que deveria ser o mais importante neste filme, o qual acaba por não explicar bem quem são e o que fazem a maior parte dos personagens. O ênfase é indubitavelmente dado a Maia, e justificadamente, dado ser ele figura central da Revolução dos Cravos, mas a escolha acertada azeda quando vemos uma figura robusta e segura com uma voz dobrada. No entanto, é ele quem consegue produzir maior identificação com o público, bem como Ruy de Carvalho ou Ricardo Pais (Marcelo Caetano), pelas pujantes aparições e espantosa semelhança física com as pessoas a que se referem.

De resto, muito fica por dizer e aprofundar em Capitães de Abril, e é pena: bases narrativas e bom elenco não faltam, somente foram subaproveitados ou mal seleccionados.

® Andreia Monteiro