terça-feira, julho 04, 2006

Klimt

Título Original:
"Klimt" (2006)

Realização:
Raoul Ruiz

Argumento:
Raoul Ruiz & Gilbert Adair

Actores:
John Malkovich - Gustav Klimt
Veronica Ferres - Emilie Flöge
Saffron Burrows - Lea de Castro
Paul Hilton - Octave Herzog


Estreado recentemente entre nós, Klimt é uma espécie de biopic enevoado, onde a vida do pintor austríaco é focada como uma imensa ilusão de óptica ou dos sentidos. O que extraímos daqui? Muito pouco, já que o próprio filme se parece com uma sucessão de pinceladas ao acaso…

Gustav Klimt (1862-1918), decorador e pintor que vivia rodeado de musas nuas, corpos de mulheres que depois transportava para a tela sobre fundos coloridos e em atmosferas sensuais e provocativas, é neste filme retratado por John Malkovich (que não víamos desde Colour Me Kubrick), sob a realização de Raoul Ruiz.
Ruiz, de nacionalidade chilena, realizou cerca de 50 filmes em 20 anos, e tem-se evidenciado ele próprio quase como um pintor, sempre experimental e mais intelectual e artístico do que propriamente fílmico. Pois bem, em Klimt esse espírito parece manter-se, mas acaba por resultar numa imensa amálgama de visões, alucinações e imagens, onde as personagens nos aparecem rodopiando, como numa valsa, e nos confundem pela ausência da sua definição.

Com efeito, o objectivo de Ruiz pode ter sido nobre, e vamos para a sala de cinema aguardando um filme intelectual, sim, mas interessante e produtivo; só que, desilusão das desilusões, assistimos a uma obra que se arrasta ao longo de duas horas, e que mais parece um conjunto de fragmentos cujo fio condutor nunca chegamos a identificar. Klimt e a divisão entre Paris, que o aclamava, e a Áustria escandalizada com as suas obras; Klimt, rodeado de filhos desconhecidos e paixões obsessivas; Klimt e a sua ousadia artística e carácter algures entre o estranho e o provocador. Klimt e…muitas coisas que caracterizam a sua vida, mas se desfazem em avanços e recuos neste filme que chega a ser muito mais confuso do que a sua própria vida – invulgar, alucinada.

Não percebemos qual o objectivo de Ruiz, e como se não bastasse somos baralhados pela sua câmara inquieta, ora parada ora em rodopios, onde vemos traços dos personagens mas nunca sabemos bem quem são. Quanto a Klimt, vemo-lo no ar meio esquizofrénico a que Malkovich já nos habituou noutras interpretações, mas acabamos por não o conhecer a fundo- como, de resto, a tudo neste filme. Tudo nos parece uma série de alucinações, não percebemos o que é real ou imaginado, e o que poderia resultar como um trabalho cinematográfico incomum e valioso acaba por se transformar num compasso de espera até ao final – quando já não sabemos em que posição estar, nem se havemos de sair ou permanecer até descodificar tudo aquilo.

Resultado: um objecto demasiado incompreensível de tanto se querer original, e só uma boa banda sonora, entre o clássico e o naturalista, e um fim poético e belíssimo, com a apoplexia e consequente morte do pintor a serem antecipadas por palavras do próprio. Decepção.

® Andreia Monteiro

1 Comments:

At 12:28 da manhã, Blogger Susana Fonseca said...

Concordo. Devo dizer que as minhas expectativas eram muito elevadas, já que um biopic sobre um pintor que eu aprecio era motivante o suficiente. Mas foi uma total desilusão. Também fiz um post no meu blog sobre ele, mas a tua crítica expõe bem o que senti e pensei sobre o filme.

 

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