terça-feira, agosto 02, 2005

Batman - O Retorno

Título Original:
"Batman Returns" (1992)

Realização:
Tim Burton

Argumento:
Bob Kane, Daniel Waters & Sam Hamm.

Actores:
Michael Keaton - Bruce Wayne / Batman
Danny DeVito - Oswald Cobblepot / Pinguim
Michelle Pfeiffer - Selina Kyle / Catwoman
Christopher Walken - Max Shreck


Qualquer sequela de um filme de sucesso tem sempre o factor comparação contra si. Tentar alcançar tanto ou parecido êxito como o seu antecessor conseguiu, podem ser condicionantes que levam qualquer produção a cometer erros invisíveis aos seus olhos, mas cruciais e decisivos na visão do grande público. Erros de elenco, de argumento e até de aspectos quase levianos como guarda-roupa, podem-se revelar fatais no bom resultado que uma sequela pode ter. Esta é uma realidade que muitos “segundos” filmes já conheceram, mas que felizmente, e para bem de muitas sagas, não é uma tendência geral no cinema, pois assim como existem várias sequelas cuja qualidade é inferior ou equipolente ao primeiro filme, também existem algumas que superam, parcial ou totalmente, o seu predecessor. E felizmente, Batman – O Retorno, é uma dessas inesquecíveis sequelas.

Realizada por Tim Burton, o mestre cinematográfico do sombrio e fantástico que já havia realizado o homónimo Batman em 1989, esta segunda grande incursão do homem-morcego no mundo do cinema revelou-se também ela uma obra que, assim como o primeiro filme, conseguiu transmitir para o grande ecrã todo o universo escuro e solitário que caracteriza a banda-desenhada do cavaleiro das trevas. Com isto, Tim Burton provou mais uma vez que foi a escolha certa para a realização dos (primeiros) filmes de homem-morcego, ou não fossem eles dois (Burton e Batman), uns perseverantes amantes do universo gótico que se vê tanto na vida do super-herói, como na filmografia do realizador.

Com uma acção que ocorre durante a fria e melancólica quadra natalícia (fetiche mor de Burton), Batman – O Retorno apresenta ao espectador uma Gothan City magnificamente transformada em circo das aberrações onde Batman enfrenta dois dos seus arqui-inimigos mais populares. É neste contexto que é apresentada a personagem de Oswald Chesterfield Cobblepot, mais conhecido como Pinguim, um homem deformado que cresceu no subsolo, e que decide regressar ao mundo exterior para dominar Gothan City. Porém, esse plano já pertence a Max Shreck, um maléfico e astuto magnata que planeia dar o golpe do baú na energia da cidade, mas que logo trata de pactuar com Pinguim de modo a que ambos lucrem com a aliança. Contudo, a dupla dá para o torto com o aparecimento da perigosa Catwoman, o alter-ego de Selina Kyle, a secretária de Shreck que tanto reclama vingança como o seu espaço na cidade e no crime. Três vilões com quem o homem-morcego acaba por se cruzar e cuja presença na história fazem deste filme um duelo de “animais” sedentos de vingança e de justiça.

Porém a qualidade de Batman – O Retorno não reside somente no interessante e credível argumento que o filme nos apresenta, mas sim nas memoráveis interpretações do elenco que transformam este segundo episódio cinematográfico do homem-morcego num museu de icónicas representações de populares heróis e vilões da nona arte. O filme pode não ser totalmente fiel quanto às reais origens dos maus da fita, desfigurando uns (Pinguim) e enlouquecendo outros (Catwoman), porém, são eles, e os respectivos actores, os senhores do palco nesta sequela.
Danny DeVito, irreconhecível fisicamente e numa das suas melhores interpretações de sempre, criou um Pinguim medonho mas caricato ao mesmo tempo, que apesar de ser o vilão do filme consegue transparecer carisma junto do espectador devido à sua burlesca monstruosidade física, mental, humana e animal. Um grande desempenho que curiosamente recebeu uma estranha nomeação à Framboesa de Ouro, na categoria de Pior Actor Secundário. Uma atitude deveras inexplicável por parte de certos "críticos" de cinema.
Contudo é Michelle Pfeiffer quem rouba a luz dos holofotes e recebe o maior número de aplausos. Naquele que é o papel da sua vida, a actriz está de tal forma ímpar na sua personagem dualista (Selina Kyle/Catwoman), que acaba por ter a melhor interpretação do filme e quiçá de toda a saga. Vestida num apertado uniforme de vinil, a actriz deu à personagem todo o seu talento e criou uma mulher-gato que esbanja sensualidade e audácia nas cenas em que aparece. Uma inesquecível performance de Pfeiffer enquanto femme fatale, e uma das melhores adaptações jamais feitas de uma vilã para o grande-ecrã. Aqueles movimentos do corpo, a voz rouca e o olhar felino são clássicos que nenhuma actriz, por mais que tente, jamais irá superar no papel de Catwoman.
Por seu lado Michael Keaton, repetente na pele de Bruce Wayne/Batman, apresenta desta vez um Batman melancólico e mais preocupado em encontrar o amor em Selina Kyle/Catwoman do que em combater o crime, e talvez por isso acaba por ficar à sombra de DeVito e Pfeiffer, embora a sua prestação seja tão boa como do filme antecessor. Por seu lado, Christopher Walken, no papel de Max Shreck, o único vilão sem super-poderes e instintos animalescos que enfrenta Batman, é também a única prestação razoável do filme, oscilando entre o papel de personagem secundária e figurante, sem se decidir para que lado cai.

Merecidamente nomeado para o Óscar de Melhor Maquiagem e Melhores Efeitos Especiais, Batman – O Retorno peca somente pelas poucas cenas de acção entre os vilões e o homem-morcego, e também pelo pouco destaque que o suposto protagonista tem no filme. Isto porque de resto tudo é admirável e colossal: a história, a atmosfera, as interpretações, o guarda-roupa, o batmóvel e principalmente Gothan City, obscura e tenebrosa como sempre devia ser no grande ecrã.

Em suma, recomendo Batman – O Retorno a todos os fans do homem-morcego e da obra de Tim Burton, e principalmente àqueles que queiram assistir a um filme repleto de qualidades.
Este é o mais negro dos cinco filmes, e também o mais intrigante e intenso. E se não é o melhor de toda a saga, pelo menos é um dos melhores filmes já alguma vez feitos sobre o cavaleiro das trevas. Um clássico icónico e memorável dos anos noventa para ver e rever sempre que possível, pois não é todos os dias que o cinema (de super-heróis) nos presenteia com uma sequela tão boa, lotada dos ingredientes certos e precisos, e capaz de sobreviver ao efeito amnésico que o tempo costuma trazer à maioria dos filmes de homens com capas e máscaras. Se é que me faço entender.

® Fábio Guerreiro

2 Comments:

At 11:17 da manhã, Anonymous Anónimo said...

oi..tb gostei deste filme.principalmente da interpretação da catwomen(michele).é um filme ao estilo do burton[muito negro].em comparação com os outros filmes do batman este e o "batman forever" foram os melhores.

 
At 11:51 da manhã, Blogger Juom said...

Realmente, Batman Returns é não só o melhor filme dos 5, mas também o considero um dos melhores filmes (senão mesmo o melhor) de Tim Burton. Toda a tragédia presente na história é absolutamente arrebatadora e tem cenas de antologia, começando logo pelos créditos iniciais. Como realmente foi escrito nesta crítica, acaba por ser menos um filme sobre o Batman do que sobre os seus vilões, mas a verdade é que, desde que o vi pela primeira vez, no cinema, com os meus 9 ou 10 anos e a última, aqui há uns meses atrás, ainda sinto uns arrepios com algumas cenas. Tim Burton no seu melhor de sempre :-)

 

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