terça-feira, fevereiro 20, 2007

Tempos Cruéis

Título Original:
"Harsh Times" (2005)

Realização:
David Ayer

Argumento:
David Ayer

Actores:
Christian Bale - Jim Luther Davis
Freddy Rodriguez - Mike Alonzo
Eva Longoria - Sylvia


Filme sobre personagens sem rumo, num ambiente sem nexo. O argumentista de Dia de Treino volta ao mesmo cenário e ao mundo do crime local, mas a sua criatividade gastou-se, aparentemente, no projecto anterior. E diga-se de passagem que Dia de Treino foi claramente sobrevalorizado pelo ano em que os Óscares decidiram agraciar dois actores negros e não haver mais ninguém disponível. Denzel Washington é um excelente actor, mas esse episódio sobre corrupção dentro do corpo policial de L.A. foi trepidante porque teve Tony Scott ao volante e Eva Mendes no assento de trás, sem esquecer a luta de morte entre um polícia veterano corrupto e um agente aprendiz disposto a acabar o turno e repor a ordem.

Em Tempos Cruéis, ninguém representa a ordem. Ambos protagonistas vivem na mediocridade de um bairrismo habituado aos pequenos crimes, que eles cometem como quem toma o pequeno-almoço, sem ligarem às consequências. Um deles é um sociopata que foi desmobilizado dos comandos após umas incursões no Iraque e quer ser polícia em Los Angeles, o outro é um badameco por força das circunstâncias, ex- toxicodependente a querer recompor-se, mas sem grande força de vontade.

Christian Bale é o sociopata, Freddy Rodriguez é o amigo bem intencionado. O primeiro quer um emprego para poder trazer a namorada mexicana para os EUA e casar-se, o outro quer um emprego para aplacar a sua mulher, farta de ser a única a prover o sustento da casa. Os dois amigos metem-se em sarilhos e, como era previsível, o que semeiam no início tem de ser colhido no final. Haverá redenção para estes dois? Christian Bale continua musculado. Depois de ter emagrecido trinta quilos para O Maquinista e tê-los recuperado e ultrapassado para Batman Begins, vê-se que considera o ginásio como verdadeiro trabalho de actor. Num papel que também estaria bem a um Vin Diesel, caracteriza o seu sociopata como um bipolar, com constantes mudanças de temperamento e atitude, as quais atingem uma rápida e frenética escalada em direcção à loucura. Traumas da guerra ou não, só há uma frase em todo o argumento para sustentar uma conclusão “Que te aconteceu? Costumavas ser um gajo porreiro.”

Freddy Rodriguez está em maré de sorte. Fez-se notar na série Sete Palmos de Terra, deixou-se morrer no fiasco Poseidon (e foi o melhor que fez) e passou pelas cozinhas de Bobby no mesmo ano que este Tempos Cruéis, com uma pouco equilibrada passagem pela Senhora da Água (só musculava um lado do corpo, daí o desequilíbrio). Apesar da curta estatuta, lá se vai safando com o seu ar de anjo. Como esposa que o quer empregado, atribuíram-lhe Eva Langoria, que fez parar o trânsito com a série Donas de Casa Desesperadas e agora se passeia decorativamente por algumas médias produções cinematográficas (rodou no mesmo ano Sentinela, com Kiefer Sutherland e Michael Douglas).

Em última análise, Tempos Cruéis é uma total perda de tempo. A acção avança pelo marasmo e termina no tédio, as cenas de violência perdem-se na vulgaridade e na indefinição. As personagens não têm estofo e os actores pouco em que se agarrarem. David Ayer, o realizador, foi também responsável pelos guiões de Submarino U-571, Fast and Furious e SWAT. Nada de relevante, portanto, até à data.

® Ricardo Lopes Moura