sexta-feira, agosto 11, 2006

Helena de Tróia

Título Original:
"Helen of Troy" (2003)

Realização:
John Kent Harrison

Argumento:
Ronni Kern

Actores:
Sienna Guillory - Helen
Matthew Marsden - Paris
Rufus Sewell - Agamemnon
John Rhys-Davies - King Priam of Troy


Entre os muitos frutos dados pela história da mítica Tróia e da luta pela sua posse, ficou este telefilme –enorme- onde, contudo, restam poucas falhas a apontar. O desejo que gera a guerra, a beleza fatal de Helena, os 10 anos do cerco a Tróia retratados de forma supreendentemente fidedigna.

Realizado por John Kent Harrison e escrito por Ronni Kern, ambos profissionais do mundo televisivo e responsáveis por discretos seriados, Helena de Tróia, de 2003, é provavelmente um dos trabalhos do género que mais se destaca, pela minuciosidade e preocupação artística que lhe parecem estar subjacentes, e sobretudo por constituir mais uma adaptação de uma história que fez correr muita tinta e que, em cinema, originou exemplos controversos como Tróia, de Wolfgang Petersen, apoiado na estrela Brad Pitt enquanto Aquiles.

Pois bem: sendo o foco escolhido Helena, Aquiles ou a lenda do cavalo de Tróia, diga-se que, até hoje, foi difícil encontrar um exemplar à altura deste Helena de Tróia. É que, mesmo não escapando a 100% a incongruências históricas (afinal, só quem lá estava é que saberia a verdade total dos factos, e esse senão está sempre logo à partida intrínseco aos épicos), nota-se neste filme de cerca de 3 horas uma maior fidelidade a esses mesmos factos, bem como aos personagens envolvidos. Ao contrário de Tróia, um tímido blockbuster histórico, onde inúmeras relações eram adulteradas (como um retrato demasiado nobre de Aquiles, para Pitt não aparecer demasiado vilão, ou o envelhecimento e fraca aparência de Menelau e Agamémnon, em comparação à belíssima Helena), Helena de Tróia consegue ser bem mais equilibrado e ir ao pormenor de certos momentos que a História relata mas que no primeiro filme ficaram completamente ocultados. Exemplifico: o sacrifício de Ifigénia, filha do frio Agamémnon (Rufus Sewell), para obter ventos favoráveis e assim rumar a Tróia; a verdadeira história de Páris (Matthew Marsden) – bravo guerreiro, acometido de uma terrível maldição -, prevista por Cassandra (Emília Fox), sua irmã e oráculo ignorado; o carácter bárbaro e ambicioso de Aquiles, que após matar Heitor (aqui não tão amiguinho do irmão Páris, e interpretado por Daniel Lapaine) o arrastou sem piedade à volta da sepultura do seu amado Pátroclo, sendo apenas detido pelo pedido da sua mãe.

Em suma, e não conseguindo escapar à comparação com o fraco filme de Petersen, esta é uma obra fascinante para os apreciadores da História, onde as complexas relações entre os gregos e o seu misticismo/politeísmo são a envolvente bem criada para a história de amor trágica entre Helena de Esparta (Sienna Guillory), mulher de Menelau (o cómico homossexual amigo de Bridget Jones, James Callis), destinada a ter a morte e a desgraça à sua volta em virtude da sua beleza, e o belo e corajoso Paris (em Tróia um cobarde apaixonado), que a rouba aos gregos e a leva para Tróia, dando assim mais um mote para a guerra que se arrastou por uma década e que só teve fim com a ideia de Ulisses (Nigle Whitmey) - o Cavalo de Tróia, que irrompeu pelas impenetráveis muralhas “de ouro” destruindo toda a cidade e gerando uma série de outras consequências.

Assim sendo, tudo isto e muito mais não deixou de ser contemplado em Helena de Tróia, e só pequenos detalhes como a ausência de Andrómaca (esposa de Heitor, melhor retratado em Tróia como homem dedicado à família que era) se fazem notar, mas pouco – e, em contrapartida, temos inesperadas aparições como a do veterano Stellan Skarsgard (Ondas de Paixão, O Exorcista – o Princípio…) na pele do herói Teseu (que derrotou o terrível monstro Minotauro em Creta e foi uma espécie de tutor de Helena, até os seus irmãos, Castor e Pólux, a raptarem).
Na verdade, a grandiosidade dos desempenhos (apesar de incorporados em actores quase desconhecidos) e da narração, o apuro nos cenários e na figuração e uma realização cuidada e ajustada, bem como um argumento escorreito e atractivo, sobressaem perante qualquer pormenor menos fiel, pelo que se aconselha vivamente o visionamento desta excelente obra cinematográfica.

® Andreia Monteiro