A Marcha dos Pinguins
Título Original: "La Marche de l'empereur" (2005) Realização: Luc Jacquet Argumento: Luc Jacquet & Jordan Roberts Actores: Morgan Freeman - Narrador |
Surpreendente sucesso de bilheteira em França e nos Estados Unidos, A Marcha dos Pinguins é uma curiosa obra que coloca em causa os limites entre o cinema documental e ficcional e lança definitivamente o pinguim para o grupo de animais mais carismáticos do momento (algo que já se evidenciava, por exemplo, na longa-metragem de animação Madagáscar ou em vários anúncios publicitários).
O realizador e biólogo Luc Jacquet seguiu a travessia anual dos pinguins imperadores por territórios inóspitos da Antártida, apresentando os seus rituais de acasalamento, as constantes disputas entre fêmeas, o nascimento e os primeiros dias das crias, assim como as imprevisíveis e nefastas contrariedades que se atravessam no seu caminho, desde astutos predadores a problemáticas condições climatéricas.
Tendo em conta a sua premissa, A Marcha dos Pinguins poderia ser mais um documentário formatado, semelhante a tantos outros que focam a vida animal e são exibidos em muitos canais de televisão regularmente. Contudo, Jacquet recorre aqui a elementos algo invulgares, antropomorfizando os pinguins e recorrendo a uma narração em off, na primeira pessoa, que visa exprimir as emoções e dramas destes, de forma a aproximá-los do espectador. O problema é que o recurso à voz é muitas vezes desnecessário e, sobretudo, mal trabalhado, ora caindo em reflexões existenciais inócuas e pretensiosas ou em relatos demasiado infantis e recheados de rodriguinhos dóceis.
A Marcha dos Pinguins é assim um filme onde cada imagem vale, sem dúvida, mais do que mil palavras (ou pelo menos, do que aquelas a que Jacquet recorre), envolvendo e deslumbrando através dos esplêndidos desertos de gelo e das impressionantes peripécias que marcam a viagem dos caricatos e perseverantes protagonistas.
A banda-sonora, da autoria de Émilie Simon, é tão bela como as imagens, oferecendo aconchegantes canções marcadas por electrónicas suaves e voz angelical, aproximando-se dos ambientes dos islandeses Múm ou de Emiliana Torrini e funcionando enquanto adequado complemento da vertente visual.
É pena, por isso, que a geralmente intrusiva voz off e a excessiva duração do filme façam com que, apesar de enriquecida por alguns momentos prodigiosos, A Marcha dos Pinguins seja uma obra repetitiva e, no fundo, apenas mais um feel-good movie simpático e por vezes comovente.
® Gonçalo Sá
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