sexta-feira, outubro 28, 2005

Os Quatrocentos Golpes

Título Original:
"Les Quatre Cents Coups" (1959)

Realização:
François Truffaut

Argumento:
François Truffaut & Marcel Moussy

Actores:
Jean-Pierre Léaud - Antoine Doinel
Claire Maurier - Gilberte Doinel, the Mother
Albert Rémy - Julien Doinel


À Bout De Souffle é a história de um amoral jovem ladrão fugido à policia que é traído pela sua namorada americana; contém quase todas as principais características técnicas dos filmes da Nouvelle Vague:

- câmaras portáteis (hand-held cameras) de 35 mm;
- filmagens em exteriores;
- uso de luz natural;
- improvisação do enredo e diálogos e o som gravado em directo com gravadores portáteis que eram sincronizados electronicamente com as câmaras.

A mais importante característica técnica dos filmes da Nouvelle Vague o recortado e elíptico estilo de montagem, que empregado a uma grande percentagem de “jump cuts” dentro e entre as cenas, com a intenção de destruir a continuidade no espaço e no tempo na experiência de visionamento do filme. Temos como exemplo o começo do filme no qual ocorre a seguinte sequência de cenas:

o jovem ladrão encontra-se com o carro numa estrada que passa por uma zona de campos, passa vários carros a alta velocidade; brevemente contempla duas raparigas que pedem boleia, fala com ele mesmo e com a audiência sobre uma grande variedade de assuntos para ocupar tempo. De seguida ultrapassa um grande camião e vê-se logo de seguida perseguido por dois policias; envereda por uma pequena estrada lateral que vai dar a um pequeno matagal e finge Ter uma avaria no carro; um dos policias passa por ele, mas o outro detecta-o e vai ter com ele; o protagonista vai buscar um revólver ao carro e é insinuado que o policia é morto. Belmondo corre pelo campo aberto e pede boleia de volta a Paris. Num filme da altura dito comercial, esta sequência seria feita de forma muito diferente, havendo um número muito maior de planos descrevendo muito mais os acontecimentos que se descrevem. Em “À Bout De Souffle” toda esta sequência é feita apenas com uma série de breves planos: grandes planos da cara do ladrão, médios planos deste a guiar o carro...

Já num estado mais avançado do filme, Godard começa muitas cenas com um desorientador grande plano e só corta mais tarde para outro tipo de plano, ou puxa a câmara atrás para revelar o contexto da acção; este tipo de técnicas ia completamente contra as práticas convencionais da altura. Mas, o pormenor técnico mais radical de todos era o uso do jump-cut numa cena contínua, ou seja, a certa altura no filme a personagem de Jean-Paul Belmondo, está a conversar com sua namorada americana na casa de banho; continua a falar e, de repente acaba seu discurso a começar a deitar-se na cama. Este corte radical das chamadas “establishing shots” durante certas sequências apenas chamam a atenção sobre o poder manipulativo do realizador, dando assim a ideia de que o ali se vê é uma realidade manipulada, um filme.

Todo este tipo de técnicas são hoje em dia muito utilizadas, mas na altura, foram consideradas uma inovação radical, que entrou nas convenções estilísticas associadas á Nouvelle vague.

É importante referir igualmente a importância que este movimento e, mais especificamente os seus fundadores, tiveram a nível da recuperação de diversos realizadores graças aos artigos editados na mundialmente famosa Cahiers Du Cinema. Alfred Hitchcock foi um deles e, graças a tal, Hitchcock passou a ser visto de uma forma totalmente diferente, um artista, um realizador digno dos mais rasgados elogios, o que até então não tinha ocorrido!

Até para a semana e, bons filmes...

® Bruno Sá

3 Comments:

At 11:47 da manhã, Blogger Daniel Pereira said...

Ora aqui está uma obra-prima absoluta.

 
At 4:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Olá Daniel Pereira!

Reparei na tua crítica ao fim do Jean-Luc Godard "O Acossado" mas no início da tua crítica está a foto e a ficha de "Os Quatrocentos Golpes" do François Truffaut?

Um Abraço Cinéfilo!

 
At 10:31 da tarde, Blogger Juom said...

Muito informativa também esta segunda parte da análise. Além de bastante elucidativa, uma vez que dás exemplos concretos explicativos das técnicas utilizadas, etc... e para quem esteja pouco a par deste movimento, o texto pode ser uma excelente ajuda para descobrir obras deliciosas como estas.

Abraços!

 

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