Nouvelle Vague - Parte I
Título Original: "L'Année dernière à Marienbad" (1961) Realização: Alain Resnais Argumento: Adolfo Bioy Casares, Alain Robbe-Grillet & Alain Resnais Actores: Delphine Seyrig - A/Woman Giorgio Albertazzi - X/Stranger Sacha Pitoëff - M/Escort/Husband |
Após o especial sobre o movimento Neo-Realista (as suas “manifestações” cinematográficas) decidi esta semana apresentar um pequeno trabalho, bem mais conciso que o anterior, sobre um outro movimento de fulcral importância na história do cinema, a Nouvelle Vague. O filme que utilizo como exemplo para descrever as características do movimento é À Bout De Souffle, filme já anteriormente analisado por um colega deste blog. Aconselho vivamente a leitura dessa review que, pela sua qualidade, complementa muito bem este trabalho. De referir igualmente que a utilização deste filme como exemplo deve-se ao facto de se tratar de um dos mais perfeitos exemplos de tudo o que caracterizou a Nouvelle Vague.
Para finalizar permitam-me apenas explicar que o filme colocado para exemplificar o movimento não é o mesmo utilizado neste texto devido à situação anteriormente descrita. Como tal coloquei um outro marcante e brilhante filme inserido neste movimento, L'Année dernière à Marienbad de Alain Resnais, aconselhado vivamente pela sua qualidade e pelo lugar histórico que ocupa na história do cinema. Para o futuro é indiscutivelmente uma obra a merecer uma detalhada review, seja por mim ou por qualquer outro colega que deseje aproveitar a ideia.
Em meados dos anos 50, uma onda inovadora atingiu o cinema. Foi em França que o movimento encontrou sua configuração, pelo menos a mais célebre e influente. Era a Nouvelle Vague e suas ideias artísticas e morais de liberdade. Os jovens e novos realizadores franceses liberaram o cinema ao utilizarem avanços técnicos como câmaras mais leves, som directo sincrónico, etc. Ao rodarem os seus baratos filmes fora de estúdios privilegiavam a espontaneidade criativa, a descontinuidade narrativa... e outras técnicas nunca até então vistas no cinema.
Instituíram a política de autores, determinando que o verdadeiro autor de um filme, com sua visão do mundo e da vida, era o director de cinema. Como todos os movimentos, eventualmente a Nouvelle Vague começou a diluir-se, e enquanto alguns acomodaram-se a uma corrente mais comercial, outros mantiveram-se afeitos a seus interesses e preferências pessoais (Resnais); Godard foi talvez o mais fiel ao espirito do movimento, que preconizava a liberdade extrema e prezava a inquietação permanente.
Em 1959, o considerado terceiro filme importante da Nouvelle Vague desse ano, após Les Quatre-Cents Coups de Truffaut e Hiroshima, Mon Amour de Resnais, foi À Bout De Souffle de Jean-Luc Godard, que foi em muitos aspectos o mais característico e influenciador filme do movimento. À Bout De Souffle foi escrito por Godard baseado numa história de Truffaut; dedicado a um dos maiores estúdios americanos de filmes B nos anos 30 e 40, este era conhecido pela sua capacidade de realizar bons filmes com orçamentos muito reduzidos e filmagens em curtos espaços de tempos, que era precisamente o ideal para a Nouvelle Vague. No entanto, neste movimento, a intenção não era fazer filmes baratos para conseguir um lucro grande e rápido; os realizadores da Nouvelle Vague faziam filmes baratos de modo a ficarem totalmente independentes da indústria cinematográfica, obtendo assim a liberdade de experimentação que tanto queriam.
Modelado segundo o típico filme americano de gangsters, À Bout de Souffle era vivido ao mesmo tempo num espírito de paródia e de homenagem a este género. As grandes evidências desta dualidade de ideias é a estrutura do filme, o jazz americano que se faz acompanhar ao longo deste, o gangster, personificado por Jean- Paul Belmondo, e a típica “femme fatale” loira... Na realidade se estes factores apontam para uma homenagem, outros há que direccionam completamente este filme, no sentido da paródia. A “femme fatale” do filme é confusa em suas ideias e personalidade; o gangster está constantemente a olhar para os cartazes de filmes com Bogard, ansiando ser como este, o característico gangster. O próprio Jean-Paul Belmondo é uma pessoa fraca e inexperiente, dando a ideia de ser apenas um reles ladrãozeco.
Para a semana concluirei este pequeno especial sobre este movimento de enorme inportância histórica no desenvolvimento da nossa amada 7ª arte.
Até para a semana e bons filmes.
® Bruno Sá
1 Comments:
Por alguma razão não tinha apanhado este texto aqui quando foi publicado. Está bastante interessante e vou já de seguida ler a Parte II ;-)
A Nouvelle Vague fascina-me bastante e apenas há relativamente pouco tempo tive oportunidade de ver À Bout de Souffle, que comentei também no meu blog, e fiquei maravilhado. Ainda assim, o meu favorito destes irreverentes autores é Truffaut, e Jules et Jim o melhor filme da Vague (de entre os que vi, claro).
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