sexta-feira, julho 22, 2005

Cinema Neo-Realista - Parte II

Título Original:
"Ladri di biciclette" (1948)

Realização:
Vittorio De Sica

Argumento:
Luigi Bartolini & Cesare Zavattini

Actores:
Lamberto Maggiorani - Antonio Ricci
Enzo Staiola – Bruno
Lianella Carell - Maria


O cinema neo-realista era um movimento com características muito próprias. Os grandes expoentes deste cinema tinham em comum além dos temas, imensas características técnicas muito bem definidas. O objectivo destas características era conferirem aos filmes um maior realismo reduzindo assim a fronteira entre a realidade como a conhecemos e a ficção por nós visionada num filme. Entre as características próprias do cinema tipicamente neo-realista destacam-se:

- Recusa de efeitos especiais, na medida que estes não são normalmente algo quotidiano da vida real;
- Montagem simples, para que a intervenção de técnicos, realizador, etc. fosse quase nula de modo a haver uma maior naturalidade e simplicidade nos filmes havendo um certo aspecto de documentário nestes;
- Rodagem em cenários naturais, para maior identificação do espaço em que se desenrola a acção;
- Utilização de actores não profissionais, havendo assim a redução da atmosfera cinéfila que rodeia um filme aquando da utilização de um actor/actriz conhecido/a;
- Improvisação nas filmagens, sobressaindo uma maior naturalidade na actuação dos protagonistas.

Em conclusão, no fundo, o uso de todas estas e outras características tinha apenas um único grande objectivo: a obtenção do mais fiel retracto possível num filme da realidade.

Neste movimento alguns realizadores e correspondentes filmes merecem especial destaque. Começarei por falar em Roberto Rossellini que, dentro deste, foi provavelmente o mais fiel e exímio no uso das características neo-realistas. O filme Roma, Città Aperta é talvez um dos mais marcantes filmes da época inicial do movimento. O filme retracta a acção e um grupo de resistentes do qual fazem parte dois amigos que têm apoio de um padre e da mulher de um deles. Os fascistas e nazis acabam por encontra-los e acabam todos por morrer, acabando o filme com as crianças a caminharam para a destruída e caótica cidade de Roma deixando no ar uma mensagem de esperança. Logo as primeiras imagens deste filme são imagens reais captadas por Rossellini com uma câmara oculta. O filme acabaria por ser um grande sucesso e foi talvez o primeiro grande filme neo-realista de todos os tempos, com quase todas as características deste movimento a serem aqui usadas com um domínio perfeito destas.

Outro cineasta que deve ser referido quando falando do movimento neo-realista é o realizador Vitorio De Sica. O seu filme Ladri Di Biciclette correu o mundo e é ainda hoje considerado por muitos como o melhor filme de todos os tempos. De uma beleza e simplicidade apaixonantes, o filme retracta a vida de um operário desempregado que consegue arranjar um emprego que necessita obrigatoriamente de uma bicicleta. Após um grande sacrifício feito em casa, a venda dos lençóis que possuíam, consegue comprar a bicicleta mas esta é-lhe roubada pouco depois, sendo o resto do filme a procura da bicicleta pelo operário e seu filho. O filme acaba de uma forma tipicamente neo-realista: o homem não consegue encontrar a bicicleta e acaba assim como começou no filme, desempregado. A crueldade patente neste filme e os acontecimentos retractados vão completamente ao encontro dos temas actuais na Itália da altura; o uso de actores não profissionais, mas com uma capacidade de actuação digna de registo tornam este filme num dos mais realistas e dramáticos dentro do movimento.

Acabaria de falar nos filmes e realizadores neo-realistas com Luchino Visconti. Apesar de serem muitos os realizadores e filmes importantes deste movimento, a verdade é que Visconti acabou por possuir um papel deveras interessante dentro deste contexto. Se por um lado foi com o seu filme Ossessione que o termo neo-realismo surge, será com um outro filme seu La terra trema que o movimento atingiu segundo alguns críticos e investigadores (para Paul-Lois Thirard por exemplo) o seu ponto culminante e, ao mesmo tempo, o prenúncio de um fim mais ou menos próximo. O protagonista do filme é ‘Ntoni Valastro, jovem pescador de uma pequena aldeia. Os pescadores vêem o seu trabalho ser explorado pelos grossistas do peixe, que fazem os preços. Na sequência do confronto entre pescadores e grossistas, ‘Ntoni consegue convencer a família a estabelecer-se por conta própria, na pesca e na comercialização. O capital é assegurado por um empréstimo sob hipoteca. Mas as coisas correm mal, e a ruína atinge a família Valastro. O irmão de ‘Ntoni, Cola, torna-se contrabandista; o casamento de Mara, a irmã mais velha, desfaz-se; a irmã mais nova, Lucia, é desonrada pelo chefe dos carabineiros, Salvatore. Por fim, ‘Ntoni recusa retomar seu trabalho nas condições anteriores. A história, mais uma vez, tem o típico drama e fim “mau” dos filmes neo-realistas. Mais uma vez, características como a rodagem em cenários naturais, uso de não actores... estão presentes. O filme acaba por vir a ser o princípio do fim do movimento pois por esta altura, factores políticos, económicos e sociais acabam por assim o ditar. Por um lado, começava a guerra fria, tudo o que era comunista era mau. A direita ganha as eleições, os problemas focados pelos filmes neo-realistas começam ficar estagnados e ultrapassados, ou seja, tudo começa a contribuir para o fim do movimento...

® Bruno Sá

3 Comments:

At 12:33 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Obrigado... fico contente com o feedback positivo que tantas vezes tenho tido o prazer de receber ;)
Espero que a 3ª e última parte seja igualmente do agrado de todos...

 
At 1:20 da manhã, Blogger Gustavo H.R. said...

Um colega de blog meu também está a dissertar sobre o cinema italiano neo-realista. Uma fase rica e de suma importância para qualquer cinéfilo que se preze.
LADRI DI BICIcLETTE é daqueles clássicos eternos.

 
At 7:02 da tarde, Anonymous Anónimo said...

BRUNO:
ESTE ARTIGO ME DEIXOU MUITO FELIZ.
ERA O ARGUMENTO NECESSÁRIO PARA A MINHA MONOGRAFIA. FALO SOBRE O MOVIMENTO NEO REALISTA E SUA IMPORTÂNCIA PARA A CONTEPORÂNEIDADE.

ALEM DE OBJETIVO E BEM FUNDAMENTADO O SEU ARTIGO É LEVE E INTERESSANTE DE LER.

PARABENS!

CASO EU PRECISE DE MAIS INFORMAÇÕES PODERIA ME CONTACTAR A VC ...

OBRIGADO

JOÃO PAULO

 

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