sexta-feira, julho 15, 2005

Cinema Neo-Realista - Parte I

Título Original:
"Roma, Città Aperta" (2002)

Realização:
Roberto Rossellini

Argumento:
Sergio Amidei & Federico Fellini

Actores:
Aldo Fabrizi - Don Pietro Pellegrini
Anna Magnani – Pina
Marcello Pagliero - Luigi Ferrari/Giorgio Manfredi



Durante três semanas vou fazer algo distinto do que tem sido habitual e apresentar-vos uma pequena descrição e análise do movimento Neo-Realista. Para ilustrar este trabalho colocarei sempre um filme, com sua devida pontuação e ficha técnica, no início cobrindo assim três dos mais brilhantes filmes integrados neste movimento. Com esperanças que tal venha a ser do vosso agrado inicio assim este “conto” de 3 capítulos...

A data que marca o nascimento do neo-realismo é um pouco confusa de delimitar precisamente mas, a verdade é que pensa-se que foi o montador Mario Serandrei aquando da montagem da primeira longa metragem de Luchino Visconti, Ossessione, que inventou o termo, daí que de um certo ponto de vista, este filme é o percursor deste movimento até mesmo pelas suas características cinematográficas. Apesar de assim se pensar, a verdade é que quando se fala do neo-realismo, pensa-se no movimento de ideias surgidas no seio do grupo comunista de Cinema, uma revista onde trabalhavam inúmeros intelectuais de esquerda e até membros do partido comunista clandestino e cuja importância no surgimento do movimento neo-realista foi muito grande, que levou à criação do cinema italiano do pós-guerra com, Rossellini, De Sica, Zavattini, etc.. O grande período é o que cobre 1944, 1945, 1946, em que surgem algumas das maiores obras primas deste movimento: Roma, cidade aberta; Paisa e outros.

Mas o nascimento do cinema neo-realista não foi de nada simples e fácil, muito pelo contrário. Quem administra Roma por altura de 1944 é o almirante Stone que tinha ideias bem definidas sobre o cinema. Transforma a Cinecittá num campo de refugiados afirmando que: “O pretenso cinema italiano foi inventado pelos fascistas. Logo, deve ser suprimido. E com ele os instrumentos que deram corpo a essa invenção . Incluindo a Cinecittá. Nunca houve indústria do cinema em Itália, nunca houve industriais do cinema. Quem eram eles? Especuladores, aventureiros, mais nada! De resto, a Itália é um país agrícola, que necessidade tem de um cinema?”. Este discurso arrogante e infeliz de um almirante americano acabou por ser uma espécie de castigo ao orgulho inchado dos Estados Unidos da América, pois o movimento neo-realista tornou-se uma realidade que acabou por ensinar cinema à Europa e à América; possui alguns dos mais inesquecíveis filmes de todos os tempos e o mais irónico é que nasce num país completamente devastado pela grande guerra.

O cinema neo-realista, além de todas as características únicas que possuía e que viriam a instruir outros países produtores de cinema, era a expressão mais elevada e famosa dos sofrimentos, sonhos, esperanças e dramas da Itália pós-guerra; quase, se não todos os filmes inseridos neste movimento souberam narrar, de uma forma aparentemente objectiva os acontecimentos capazes de suscitar uma adesão colectiva imediata, através da criação de figuras exemplares, em que toda uma geração de espectadores se pôde reconhecer. Esta identificação imediata da parte do público adjacente aos temas retractados pelos filmes neo-realistas virá eventualmente a ser um ponto fraco do movimento como mais tarde falarei.

Resumindo, vemos que em termos históricos, o cinema neo-realista nasce no desolado cenário pós-guerra que era Itália e com alguma oposição dos ditos salvadores americanos. Com o país em dificuldades e praticamente destruído, os temas a retractar neste movimento eram a pobreza, problemas sociais, os terrores da guerra, etc., focando a assim realidade da altura. Em termos de correntes teóricas, este movimento vai de um certo ponto de vista ao encontro das teorias de Lumière e contra as teorias de Méliès, como defenderia o famoso teorizador André Bazin, ou seja, em traços gerais o que importa no cinema para os neo-realistas é a passagem da forma mais natural e realística possível da realidade para a ficção, a ficção quase como que espelho da realidade. Esta teoria não é por mim aceite na perspectiva de que é da minha opinião que não se pode ser tão categórico em algo tão subjectivo e variado como o cinema. Mas mais à frente irei melhor defender e mostrar o porquê da minha opinião.

® Bruno Sá