A Estranha Vida de Igby
Título Original: "Igby Goes Down" (2002) Realização: Burr Steers Argumento: Burr Steers Actores: Kieran Culkin - Jason 'Igby' Slocumb, Jr. Claire Danes - Sookie Sapperstein Jeff Goldblum - D.H. Banes Jared Harris - Russel |
Introduzindo um realizador a ter em conta no cinema independente norte-americano recente, Burr Steers, "A Estranha Vida de Igby" (Igby Goes Down, 2002) é um interessante relato do crescimento e da solidão, ancorado nas experiências de um adolescente. Mais um retrato de famílias disfuncionais, que tanto tem inspirado inúmeras obras indie nos últimos anos, o filme narra o percurso atribulado de Igby, vincado pelos seus problemas escolares e de socialização.
Steers terá certamente lido "Uma Agulha no Palheiro" (The Catcher in the Reye), o livro de J.D. Salinger que continua a marcar gerações pela combinação de humor negro e sensibilidade na abordagem da complexidade da adolescência. Essas características não só se verificam em "A Estranha Vida de Igby" como o protagonista do filme tem muitos traços em comum com Holden Caulfield, seja pela carga satírica dos seus comentários, pela postura distante e desconfiada ou pela fragilidade que esconde.
Para isso em muito contribui o desempenho de Kieran Culkin, que dá uma notável prova de talento na construção de uma personagem que, apesar da considerável arrogância, é capaz de gerar empatia. Todo o elenco é, de resto, muito convincente, o que nem surpreende já que contém nomes como Susan Sarandon (uma óptima mãe histriónica), Claire Danes (com o encanto habitual), Bill Pullman (memorável num pungente retrato da esquizofrenia) ou Ryan Phillippe (mais uma vez sóbrio e equilibrado). Alguns encarnam figuras que não vão muito além da caricatura, e embora merecessem mais o protagonista é alvo de um considerável desenvolvimento, o que acaba por assegurar a consistência do filme.
"A Estranha Vida de Igby" não será uma obra especialmente original, pois para além dos paralelismos com o livro de Salinger não se distancia muito de outras dramedies indie, mas Steers supera essa condicionante com um argumento sólido, de onde se destacam alguns diálogos apropriadamente irónicos entre algumas cenas de uma estimável secura emocional.
Se essas várias mudanças de tom, entre momentos cómicos e dramáticos, nem sempre são bem sucedidas, a realização é competente e a banda-sonora exibe bom-gosto, recorrendo a canções dos Dandy Warhols, Badly Drawn Boy, Beta Band ou Coldplay (muito apropriada, a utilização de "Don't Panic"). Uma promissora primeira-obra que passou algo despercebida mas justifica a (re)descoberta.
® Gonçalo Sá
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