Rapariga com Brinco de Pérola
Título Original: "Girl with a Pearl Earring" (2003) Realização: Peter Webber Argumento: Olivia Hetreed com base no livro de Tracy Chevalier Actores: Colin Firth – Johannes Vermeer Scarlet Johansson – Griet Tom Wilkinson – Pieter Van Ruijven Judy Parfitt – Maria Thins |
Há filmes sobre inúmeras coisas. Este gira em torno de uma das mais conhecidas obras de um dos grandes pintores europeus: Vermeer (1632-1675). A história imaginada da pintura deste famoso quadro (cuja inspiração e modelo são um mistério) serve de mote à narrativa que ocorre na Holanda do século XVII. Griet é uma rapariga pobre e recatada que se vê forçada a trabalhar para sustentar a família, visto que o pai ficou cego devido a um acidente. É então encaminhada para trabalhar como criada na casa do pintor Johannes Vermeer.
Desempenhando as suas árduas tarefas diárias, pouco a pouco Griet vai conhecendo o funcionamento da casa e ganhando curiosidade em relação à arte da pintura pela qual Vermeer é tão elogiado pelo seu patrono, Pieter Van Ruijven, do qual depende a economia do lar do pintor. Quando Vermeer se apercebe do fascínio e do peculiar sentido de observação que a criada, apesar de não ter o mínimo de instrução, demonstra quando vê os quadros no atelier e deixa-a entrar no mundo da arte, explicando-lhe o uso das cores e a importância da luz na elaboração de um quadro. Toda esta valorização que Vermeer atribui a Griet, tornando-a sua musa, desperta o ciúme da esposa do pintor e o clima de tensão na casa aumenta.
A relação entre Vermeer e Griet não é fácil de definir. O interior de cada uma destas personagens é um misto de sentimentos contidos, de palavras nunca proferidas, de segredos íntimos nunca revelados. Se existisse amor, este estaria condenado à nascença, dada a situação do pintor. Porém esta contenção forçada acaba por despertar o desejo e a sensualidade de Griet, que acabamos por constatar através da relação dela com Pieter, um humilde talhante que ela conhece nas idas ao mercado.
A hipotética história da qual resulta o quadro “Rapariga com Brinco de Pérola” é-nos apresentada de uma forma simples, mas que pouco a pouco insere-nos num ambiente especial e convida-nos a participar no filme, contemplando-o como se se tratasse num quadro de pinturas vivas feito por Vermeer. Para esta situação é crucial o excelente trabalho de Eduardo Serra como director de fotografia, é como se ele próprio fosse um pintor que habilidosamente joga com as cores, as luzes e as sombras.
É pena que por vezes os talentos que os portugueses ligados à área da cultura, arte, música, cinema, têm muitas vezes só sejam valorizados fora do país. A falta de incentivos por parte de certas entidades competentes não permite que a nossa indústria cinematográfica (se é que se pode dizer que temos uma!) desperte e saia da sua rotineira dormência que a faz girar sempre em torno e depender sempre das mesmas pessoas talentosas que cá temos e que para serem reconhecidas cá dentro, são primeiro reconhecidas lá fora.
® Isabel Fernandes
2 Comments:
Assino por baixo tudo o que escreves sobre o grande, enorme Eduardo Serra. É um artista espantoso (e digo isto sem ponta de patriotismo). Sempre que ele colabora num filme, o espectáculo está assegurado. Aliás, é só o trabalho dele que faz da Rapariga com brinco de pérola um filme especial, tudo o resto é medíocre.
Pois eu gosto muito deste filme!
Ainda me recordo de o ir ver sem qualquer expectativa e sair do cinema completamente surpreendida. Tanto que no dia a seguir fui comprar um livro sobre o Vermeer e o livro que deu origem ao filme. Devorei ambos.
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