quarta-feira, julho 18, 2007

O Odor do Sangue

Título Original:
"L'Odore del Sangue" (2004)

Realização:
Mario Martone

Argumento:
Mario Martone, adaptação do livro de Goffredo Parise

Actores:
Michele Placido - Carlo
Fanny Ardant - Silvia
Giovanna Giuliani - Lu


Cineasta com uma filmografia já considerável mas até agora inédita entre nós, o italiano Mario Martone tem finalmente uma obra estreada em salas nacionais. O Odor do Sangue, a sua mais recente realização, é um filme centrado na crise conjugal de um casal de meia-idade da classe alta de Roma.

Carlo e Silvia, após vários anos de casamento, possuem uma relação que não é movida pela exclusividade, antes pelo contrário, parece manter-se devido a uma liberdade mútua em que ambos permitem que o cônjuge se envolva com terceiros.

Essa ligação com outros parceiros, que até então não gerou fricções na relação matrimonial, começa a tornar-se problemática quando Silvia é alvo de interesse de um jovem, e o contacto que se inicia como uma mera distracção casual adopta contornos mais densos e prementes, ao ponto de deixar Carlo intrigado e preocupado com o interesse que a sua esposa tem por si, anteriormente nunca colocado em causa.

A proximidade de Silvia com o novo amante não só altera a rotina do seu casamento como deixa Carlo num estado de crescente ciúme e hesitação, comprometendo também o relacionamento deste com Lu, a jovem com quem partilha a sua casa de campo.

Adaptando um romance de Goffredo Parise, Mario Martone propõe aqui um estimulante mergulho nas contingências das relações humanas, em particular no que pode levar a que a aparente cumplicidade conjugal se desvaneça sem que nenhuma das partes saiba como reparar essa deterioração emocional.

O Odor do Sangue é uma obra crua e cruel, obrigando os protagonistas a descerem ao fundo dos seus limites e deixando-os entregues às volatilidades do desejo, que se arriscam a comprometer a redescoberta do amor.
O argumento, caracterizado por um amargo travo verista e atento aos detalhes do quotidiano, insinua-se pela capacidade de sugestão, onde o real e o imaginado confundem não só Carlo, perdido nas suas dúvidas e hesitações, mas oferecem também um curioso desafio ao espectador.

Dominado por um tom que se torna progressivamente mais pesado, com expoente máximo no amargurado desenlace, o filme lembra por vezes outros retratos conjugais recentes, como 5X2, de François Ozon, com o qual partilha o olhar clínico e densas camadas de negrume.

Não sendo arrebatador, O Odor do Sangue é uma película francamente conseguida, a que não é alheio um argumento bem estruturado, uma mise-en-scène precisa e rigorosa e uma sólida direcção de actores, já que tanto Michele Placido como Fanny Ardant defendem bem as suas personagens. E, não menos importante, é um filme que deixa aguçada a curiosidade em relação à obra anterior de Martone, assim como despoleta alguma expectativa quanto a sua próxima estreia em salas nacionais.

® Gonçalo Sá