A Cidade dos Malditos
Título Original: "Village of the Damned" (1995) Realização: John Carpenter Argumento: Stirling Silliphant (argumento de 1960) com base no romance de John Wyndham Actores: Christopher Reeve – Dr. Allan Chaffee Kirstie Alley – Dr. Susan Verner Linda Kozlowski – Jill McGowan Michael Paré – Frank McGowan |
Numa pequena comunidade isolada, um perigo terrível vem do exterior e instala-se de forma destrutiva. Os contornos deste cenário podem remeter-nos para o clássico de Hitchcock, Os Pássaros; para uma brilhante mini-série de 1999 – A Tempestade do Século – com argumento de Stephen King; ou para O Nevoeiro de John Carpenter.
Carpenter é um autor com um estilo muito pessoal, que desenvolve temas do universo do Terror e do Sobrenatural com uma elevada dose de tensão emocional e de suspense. Os dias mais brilhantes da sua carreira (com mais de 30 anos) parecem já ter passado, a julgar pelas suas obras mais recentes. Depois dos brilhantes Assalto à 13ª Esquadra e Halloween, vieram filmes menos sólidos mas marcadamente interessantes: Veio do Outro Mundo (remake de um filme dos anos 50), O Príncipe das Trevas ou O Nevoeiro. Jack Burton nas garras do Mandarim revela contornos mais satíricos. Vampiros é pontualmente grotesco e caricato. Eles Vivem e Fantasmas de Marte são filmes que não desenvolvem inspiradamente ideias interessantes.
A Cidade dos Malditos é uma obra sóbria de Carpenter. Desvalorizada e esquecida. Com personagens credíveis e situações chocantes mas não incrivelmente aparatosas. Carpenter teve o bom-senso de não recorrer aqui a uma sobredosagem de efeitos especiais.
Nesta história, o perigo reside em 9 crianças de aspecto angélico mas frio. Não vem de monstros horripilantes. O poder das crianças é cinematograficamente expresso através da coloração acentuada da íris dos seus olhos. Olhos que brilham incandescentemente, que provêm de mentes que conseguem ler o pensamento dos outros e induzir-lhes vontades auto-destrutivas.
Uma das crianças profere a certo momento: «Os olhos são o espelho da alma». Nada me parece mais simbolicamente eficaz do que identificar o espírito alienígena daquelas crianças através da anormal coloração dos seus olhos. De resto, eles têm posturas rigidamente ordenadas; e um insólito cabelo que não é verdadeiramente loiro nem branco. Movimentam-se em sintonia. E não se integram na comunidade.
Poder-se-iam atribuir muitos créditos a Carpenter por aquilo que ele conseguiu em A Cidade dos Malditos. Mas a verdade é que esta obra é uma remake de um filme de 1960, não menos interessante e enigmático. O argumento do filme de Carpenter baseia-se num livro de John Wyndham e na história da película de 1960 que foi realizada por Wolf Rilla e protagonizada por George Sanders.
O que me parece pertinente salientar é que, podendo usar recursos tecnológicos que elevariam a espectacularidade visual do filme, Carpenter se deteve a desenvolver o conteúdo mais humano da história. Refez o trabalho de Wolf Rilla com apuro, competência e sobriedade (contrariamente, por exemplo, a Gus Van Sant no sua remake do Psico de Hitchcock).
Os actores foram bem dirigidos, o suspense bem cimentado desde o primeiro minuto do filme em que tudo parece estranho e inconcebível. Carpenter constrói um sólido cenário de terror e de inquietação.
Esta história tem um enorme interesse filosófico subjacente. Aquelas crianças, provenientes de uma civilização superior, não têm emoções. É a total insensibilidade delas que a distingue dos humanos. Podemos perguntar-nos então: não serão as emoções e a capacidade de distinguir o Bem do Mal que identificam a natureza humana? O Homem não tem capacidades telepáticas e os níveis da sua inteligência têm limites estabelecidos. O Homem não compreende muitos fenómenos e constrói a sua identidade misturando o poder do raciocínio com a riqueza das emoções. Sem essas emoções, existirá humanidade?
O professor da escola local (interpretado por Christopher Reeve no seu último papel antes do trágico acidente que o vitimou) pergunta numa certa cena: «Que posso eu ensinar a estas crianças se elas são tão geniais e inteligentes?» E logo alguém lhe responde: «Podes ensinar-lhes Humanidade.”
Aquelas crianças, todas nascidas no mesmo dia num fenómeno inexplicável, parecem obedecer a princípios comuns. A sua enorme capacidade de raciocínio não as consegue, no entanto, levar a compreender o que é uma emoção. Uma delas declara com preponderância: «Obedecemos a compromissos biológicos.» E tudo farão para os respeitar e pôr em prática.
Geradas no ventre de mulheres humanas (e portanto emocionais), aquelas crianças são fisicamente perfeitas. Mas não desenvolvem emoções, não as compreendem e não entendem a sua razão de ser. O percurso de David, um rapaz dos nove, é divergente. A menina que estava biologicamente determinada para ser sua companheira morreu durante o parto. Logo ele vive, como nenhum dos outros, a sensação de perda e de saudade.
Ter emoções e tomar consciência delas é profundamente humano. Mas nem todas as emoções são moralmente correctas. Da sensação de perda e de angústia, podem nascer sentimentos de ira e de revolta. Aquele menino especial, diferente dos restantes oito, será mais humano mas isso fará dele uma criatura melhor?
O elenco (bem conduzido) inclui Kirstie Alley, Mark Hammil (da Guerra das Estrelas) e a belíssima Linda Kozlowski. De resto, Carpenter constrói um estado de tensão crescente com ingredientes típicos do seu estilo – Como a Música (que nos seus filmes é uma marca identificativa) e que num registo minimalista e insistente, adensa a sensação de perigo e de inquietação.
Pontualmente, a banda sonora ecoa uma melodia que parece vinda de uma canção de embalar. De resto, o carácter insólito desta história reside no facto de nove crianças perfeitas ameaçarem toda a harmonia e felicidade. Quando estamos acostumados a ouvir que «as crianças são o melhor do mundo».
O conceito de sobrevivência implica sempre a vitória sobre as adversidades. Mas como o Professor advoga, sobreviver deverá ser, acima de tudo, sinónimo de adaptação e de coexistência com o meio-ambiente; e não uma dominação sobre esse meio-ambiente. Isso implica processos de cooperação e de simbiose. E implica compaixão. Mas compreendem aquelas crianças ideais tão distintamente humanos?
® José Varregoso
2 Comments:
amei o filme desde pequena acho que foi realizado bem que foi um guionista fixe e bons actores...
bom quase ja nao me lembrava de todas as letras do titulo do filme mas vfou te contar tenho sempre em minha cabeça algumas cenas deste filme.bom realizador , bom guionista e bons meninos actores vamos la eu ja assiste a miuto tempo e nao me esqueço...
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