quarta-feira, maio 23, 2007

Half Nelson - Encurralados

Título Original:
"Half Nelson" (2006)

Realização:
Ryan Fleck

Argumento:
Ryan Fleck & Anna Boden

Actores:
Ryan Gosling - Dan Dunne
Jeff Lima - Roodly
Shareeka Epps - Drey
Nathan Corbett - Terrance


Um professor e uma aluna. Ele, Dan, um dedicado mas algo controverso docente de um liceu de Brooklyn que encontra na sua profissão o único ponto de equilíbrio e motivação; ela, Drey, uma estudante de uma das suas turmas, que apesar de ainda estar a entrar na adolescência já sofreu a dor de um pai ausente e de um irmão preso por tráfico de droga. Entre os dois começa a consolidar-se uma afinidade gerada pela partilha de um segredo - ela encontra-o a inalar droga numa das casas-de-banho da escola - e esta atípica ligação vem tirar algum espaço à solidão e desorientação que marca o dia-a-dia de ambos.

A partir desta premissa simples, mas muito bem aproveitada, Half Nelson - Encurralados oferece um complexo e absorvente estudo de personagens ancorado em dois desempenhos notáveis, que catapultam os protagonistas para a lista de actores a ter em conta: Shareeka Epps, uma jovem revelação que surpreende pela expressão de serenidade magoada, e sobretudo Ryan Gosling, actor que já tinha dado provas de talento em títulos como Crimes Calculados ou Stay mas que oferece aqui uma interpretação quase inexcedível.
Na pele de um homem cujo idealismo é cada vez mais um refúgio de curta duração, Gosling emana raiva, entusiasmo, desencanto, esperança e frustração ao longo de um quotidiano que lhe proporciona escassos pontos de fuga. O mais recorrente acaba por ser a cocaína, da qual se torna indissociável e cuja dependência começa a ameaçar a sua conduta como professor.

Aproximando-se da espontaneidade e vibração de um Edward Norton mais jovem, Gosling é sem dúvida o grande trunfo de Half Nelson - Encurralados, tendo sido justamente nomeado para o Óscar de Melhor Actor Principal por este desempenho.

Felizmente, o filme tem ainda outras mais-valias, não se esgotando num one man show mas conseguindo enveredar por caminhos ardilosos sem nunca escorregar para um tentador moralismo, cenas de choque gratuito ou um choradinho auto-indulgente assente no triste fado do junkie. Aqui, reconheça-se o mérito de Ryan Fleck, realizador (estreante) e co-argumentista que conduz a sua obra com mão segura e consegue injectar-lhe uma contínua densidade emocional, criando um retrato sóbrio, inteligente e comovente de um jovem adulto incapaz de reestruturar a sua vida mas que tenta, ainda assim, impedir que a sua aluna caia na mesma espiral.

Fleck apresenta uma palpável atmosfera urbana com um acentuado recorte realista, apoiando-se num sólido trabalho de realização, numa outonal fotografia de tons turvos e na escolha de uma determinante (e viciante) banda-sonora, servida pelos Broken Social Scene. Nada mal para uma primeira obra de baixo orçamento, uma das mais estimulantes do cinema independente norte-americano dos últimos tempos e que, por isso mesmo, não merece ficar perdida no meio dos muitos títulos que vão estreando.

® Gonçalo Sá

2 Comments:

At 1:59 da manhã, Blogger Flávio said...

Mais um filme com o Ryan Gosling!

Escrevam o que vos digo: este rapaz arrisca-se a ser o maior actor da sua geração.

Só vi o filme que ele fez com o Anthony Hopkins, Ruptura, mas estou rendido ao talento dele.

 
At 1:55 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É bem capaz, o melhor não sei mas é já um grande actor. Não vi "Ruptura", mas se o vir é por ele.

 

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