quarta-feira, maio 02, 2007

As Pragas

Título Original:
"The Reaping" (2007)

Realização:
Stephen Hopkins

Argumento:
Carey Hayes & Chad Hayes

Actores:
Hillary Swank - Katherine Winter
David Morrissey - Doug
Stephen Rea - Padre Costigan
Anna Sophia Robb - Loren McConnell

O filme As Pragas aborda o tema inesgotável e fascinante do confronto entre ciência e religião. Os protagonistas são dois investigadores, cada qual com uma visão particular do mundo: ele é um crente e ela é uma céptica. O choque é inevitável, porque religião e ciência propõem abordagens antagónicas do mundo e ocupam o mesmo espaço do pensamento humano. Os julgamentos de Averróis e Galileu são os exemplos históricos mais marcantes dessa convivência conturbada. Mas precisamente pelo seu carácter controverso, tudo isto é material excelente para um filme de ficção, porque o conflito é essencial ao drama.

É indiscutível que a ciência leva vantagem no confronto com a religião. O domínio da ciência nunca foi tão avassalador como hoje e, perante os seus progressos, as religiões vacilam. Os fiéis são hoje uma minoria, como afirmou o próprio Dalai Lama: «Dos cinco biliões de homens do planeta, só um bilião dos que alegam ter esta ou aquela religião me parecem sinceros». A estimativa talvez até seja demasiado optimista. Mas se a religião perde terreno no nosso quotidiano, já no cinema de ficção ela parece sair a ganhar. Todas as religiões do mundo desenvolveram o conceito de Deus e Deus é, por natureza, misterioso e paradoxal e, por isso mesmo, incrivelmente sedutor para um público de cinema.

Infelizmente, As Pragas desbarata todas as excelentes oportunidades que um tema destes oferece. O filme é um desastre. Falta inspiração, porque não há uma única fala que seja inteligente, surpreendente ou espirituosa. Falta ambiguidade, porque nada é deixado à imaginação do espectador e tudo nos é mostrado com um simplismo atroz. Falta, enfim, a riqueza de detalhe que dê credibilidade ao passado trágico dos dois protagonistas. São demasiadas lacunas para que os excelentes efeitos especiais as consigam preencher com sucesso. Se há alguma coisa interessante a retirar de toda esta bodega, é apenas isso: que por mais que a tecnologia do cinema evolua, nada substitui o prazer de uma história bem contada.

® Flávio Sousa