quarta-feira, fevereiro 21, 2007

A Vida Secreta das Palavras

Título Original:
"The Secret Life of Words" (2005)

Realização:
Isabel Coixet

Argumento:
Isabel Coixet

Actores:
Sarah Polley - Hanna
Tim Robbins - Josef
Javier Cámara - Simon
Sverre Anker Ousdal - Dimitri


Segundo filme da catalã Isabel Coixet estreado em salas nacionais (o primeiro foi A Minha Vida Sem Mim, em 2004), A Vida Secreta das Palavras é um contido drama onde se entrecruzam os percursos de Hanna, uma jovem misteriosa que vai trabalhar para uma plataforma petrolífera como enfermeira durante as férias, e de Josef, o doente que está entregue aos seus cuidados, vitimado num incêndio nesse local.

A solidão e os fantasmas de acontecimentos passados surgem como elo unificador dos dois protagonistas, cuja relação começa por ser difícil devido à forma díspar como ambos agem: ela recolhida num silêncio irascível, ele apoiado em recorrentes comentários espirituosos ou mesmo jocosos.

Aos poucos, Coixet vai tecendo uma cumplicidade crescente entre estas duas figuras, entregues uma à outra no meio do vazio que as envolve. Revelando um apurado sentido de observação na forma como aborda as peculiaridades dos sentimentos e relações, a realizadora impõe ao filme um ritmo lento, mas apropriado aos contornos desta história, gerando uma aura intimista e envolvente.

Os cenários, quase sempre apenas os da plataforma petrolífera, reforçam a carga minimalista da película e o modo como a câmara os capta ajuda a consolidar uma atmosfera singular, um limbo espacial habitado por outcasts desintegrados.
Contudo, quando a acção deixa este espaço, A Vida Secreta das Palavras vai perdendo a subtileza e unicidade que mantinha até então, entrando em domínios mais convencionais pelo modo algo desapontante como desenvolve o relacionamento dos protagonistas e por um meritório, mas algo forçado, carácter panfletário de mensagem política/social.
Outro problema é a dispensável voz off, intrusiva e desnecessariamente explicativa, que interrompe fulcrais sequências marcadas pelo silêncio.

Estas fragilidades retiram à película alguma da sua força, mas não diluem a boa impressão que Coixet deixa nem as soberbas interpretações de Sarah Polley (uma das mais talentosas e subvalorizadas jovens actrizes de hoje, magnífica na meticulosa composição da lacónica Hanna) e Tim Robbins (carismático num papel difícil, ainda que perca o fôlego já no final), assim como não impedem que A Vida Secreta das Palavras seja ainda um filme adulto, belo e honesto, a merecer atenção e entrega.



® Gonçalo Sá