quarta-feira, janeiro 10, 2007

Un Couple Parfait

Título Original:
"Un couple parfait " (2005)

Realização:
Nobuhiro Suwa

Argumento:
Nobuhiro Suwa

Actores:
Valeria Bruni Tedeschi - Marie
Bruno Todeschini - Nicolas
Nathalie Boutefeu - Esther
Louis-Do de Lencquesaing - Vincent


No seu mais recente filme, Un Couple Parfait, de 2005, o cineasta japonês Nobuhiro Suwa recorre a um elenco totalmente francês para relatar o conturbado quotidiano de um casal à beira do divórcio que, após vários anos a viver em Lisboa, regressa a Paris para comparecer ao casamento de um amigo.

Casados há 15 anos, Nicolas e Marie entram em fricção constante e têm dificuldade em comunicar, mas insistem em permanecer juntos durante a viagem, partilhando os últimos momentos antes da separação.
Suwa segue-os ao longo desse período, originando um claustrofóbico e tenso retrato da intimidade (ou falta dela) e da frustração, colocando as suas personagens à beira do limite emocional mas nunca prescindindo de uma carregada sobriedade e contenção.

Dominado por cenas longas e recorrendo quase sempre a estratégicos planos estáticos, Un Couple Parfait é um interessante exercício sobre a crispação afectiva e os constrangimentos de uma vida a dois, onde a câmara está sempre colocada de modo a captar a vertigem dos protagonistas, implementando um seco e cortante efeito realista que a iluminação invernosa ajuda a consolidar.

Se este cuidado com as especificidades do espaço e da sua interligação com as personagens é um elemento fulcral do filme e gera algumas sequências fortes – sobretudo as primeiras no quarto de hotel -, também acaba por se tornar num dispositivo algo redundante e cansativo, proporcionando outras cenas inconsequentes ou desnecessariamente longas (em particular aquelas em que o casal está separado, como as do museu ou do bar).

Un Couple Parfait é assim uma película desigual, que só ganharia em abdicar de alguma palha narrativa que dilui o efeito dos bons desempenhos do par protagonista, Valeria Bruni-Tedeschi e Bruno Todeschini, quase sempre ancorados no improviso. Ela é especialmente credível, e os seus sussurros e olhares expõem a vulnerabilidade e a relutância de uma personagem em conflito, que tenta ainda reconstruir os estilhaços da sua relação em colapso.

Por vezes envolvente, noutros casos monótono e arrastado, Un Couple Parfait é um filme desequilibrado, de altos e baixos, que a espaços de aproxima de 5x2 (com o qual tem também em comum a actriz principal), e que embora fique um pouco abaixo do filme de Ozon é ainda um atento e revelador drama sobre as dificuldades conjugais.

® Gonçalo Sá