Há Dias de Azar...
Título Original: "Lucky Number Slevin" (2006) Realização: Paul McGuigan Argumento: Jason Smilovic Actores: Josh Hartnett - Slevin Bruce Willis - Mr. Goodkat Lucy Liu - Lindsey Morgan Freeman - The Boss |
À partida, e tendo em conta o trailer e restante material promocional, Há Dias de Azar... não parecia ser mais do que um blockbuster igual a tantos outros, que pouco ou nada acrescenta ao cinema ou a quem o vê, aparentando ser mais um concentrado de sequências de acção acompanhadas por alguns one-liners supostamente cómicos.
No entanto, e como por vezes as primeiras impressões enganam, esta película de Paul McGuigan consegue ser mais inventiva e imprevisível do que grande parte dos produtos do género, mérito de um argumento que de início se limita a seguir uma segura rotina mas que a meio do filme aposta numa arriscada, mas bem sucedida, mudança de registo, habilitando-se a retirar o tapete debaixo dos pés aos espectadores mais incautos.
Se o argumento é engenhoso, Há Dias de Azar... convence também em praticamente todos os outros aspectos, seja na realização e montagem fluídas q.b., capazes de gerar uma atmosfera carregada de coolness e energia cinética sem enveredar por um enjoativo estilo de videoclip; na construção das personagens, que apesar de esquemáticas se adaptam com eficácia a um enredo onde a vingança se interliga com o humor; ou na direcção de actores, pois o elenco é muito equilibrado e proporciona alguns desempenhos deliciosos por parte de gente como Morgan Freeman, Ben Kingsley, Bruce Willis, Stanley Tucci, Lucy Liu e Josh Hartnett, este último na pele do azarado protagonista que se vê envolvido num conflito entre dois chefes do submundo nova-iorquino.
De resto, os frequentes flashbacks não se tornam cansativos nem incongruentes, devido a um final que consegue atar com competência as pistas que vão sendo lançadas, e os diálogos são certeiros e irónicos, originando uma dose generosa de gags.
O filme só falha para quem levar demasiado a sério a moral de algumas personagens, ainda que Há Dias de Azar... pretenda (e ainda bem) ser mais um consistente entretenimento pipoqueiro do que um estudo psicológico sobre os abismos da esfera humana.
Longe de essencial, Há Dias de Azar... é contudo um blockbuster bastante satisfatório, com uma inteligente mistura de suspense e humor e reminiscências (mais do que assumidas) de filmes de Hitchcock, Tarantino e das aventuras de James Bond.
A par de Kiss Kiss Bang Bang e Medo de Morte, é uma das refrescantes surpresas de 2006 capaz de dar novo fôlego aos códigos do crime noir, e tal como nesses casos a vertente comercial não anula, felizmente, a criativa.
® Gonçalo Sá
2 Comments:
Este ainda não vi. Gosto do film noir, mas há a complexidade dos argumentos impede-me de ser um fanático do género. Os enredos são tão complexos e rebuscados que acabo sempre por perder o fio à meada.
Este não é difícil de seguir, mas também não é um film noir canónico, é um bom produto que aproveita algumas referências.
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