segunda-feira, novembro 20, 2006

Hard Candy

Título Original:
"Hard Candy" (2005)

Realização:
David Slade

Argumento:
Brian Nelson

Actores:
Patrick Wilson - Jeff Kohlver
Ellen Page - Hayley Stark
Sandra Oh - Judy Tokuda
Odessa Rae - Janelle Rogers


Hayley (Ellen Page) é uma rapariga encantadora que, embora ainda jovem, é muito inteligente - talvez demasiado para a sua idade. Mas mesmo as raparigas mais inteligentes cometem grandes erros. Decorridas três semanas de "chat" com Jeff (Patrick Wilson), um homem adulto que Hayley conheceu pela internet, os dois resolvem finalmente encontrar-se num café e seguir para a casa de Jeff. Parece ter sido uma decisão precipitada e arriscada por parte da pequena Hayley. Mas nem tudo é o que parece..."E se a capuchinho vermelho comesse o lobo mau"?

Em 2005, Hard Candy foi um dos filmes sensação do Festival de Sundance, tornando-se inclusivé num pequeno fenómeno de culto seguido por um razoável número de fans por esse mundo fora. E é compreensível porquê. Mais do que a curiosidade pela própria história (perfeitamente actual, diga-se), havia o desejo de saber como é que com apenas cinco actores - sendo que dois deles estão em cena durante a sua quase totalidade - se conseguiria manter o interesse durante mais de hora e meia de película.

Ora para isto acontecer, as interpretações teriam que ser excepcionalmente bem conseguidas. E a verdade é que o são. Os dois protagonistas - Ellen Page e Patrick Wilson - estiveram particularmente bem e habilitam-se seriamente a figurar na minha lista pessoal dos melhores actores do ano. Estamos perante interpretações cheias de força, deveras credíveis e perturbantemente reais. Já os restantes três actores, que apenas tiveram direito a falas de apenas quatro ou cinco linhas, estiveram ao nível do exigido. Ainda assim é bom destacar o papel de Sandra Oh: minúsculo mas brilhantemente interpretado.

Outro aspecto a realçar em Hard Candy é a sua realização. Para uma primeira longa-metragem, David Slade apresenta-nos uma câmara bastante estável (pelo menos em grande parte do filme) e sempre próxima da face dos protagonistas de forma a captar melhor as suas emoções e a realçar a tensão. Um dos melhores exemplos desta característica do filme está presente numa das suas cenas mais memoráveis e perturbadoras: nunca chegamos a ver nada de realmente explícito, mas a tensão e o sofrimento na cara de um dos protagonistas é tanta que facilmente é transmitida ao espectador.

Mas como uma primeira obra nunca está isenta de falhas, Hard Candy também não é excepção. O argumento escrito pelo também estreante Brian Nelson (que apenas tinha escrito para séries de TV) vai perdendo um pouco do seu fulgor inicial com o decorrer da película e infelizmente possui diversos "buracos" que se revelam na ausência de um maior número de explicações e objectividade em determinas sequências, incluindo o final do filme. O facto de practicamente apoiar tudo o que Hayley faz a Jeff também não abona a seu favor. Já a fotografia em tons escuros é igualmente interessante e nunca deixa de nos ambientar melhor num clima de tensão constante.

Hard Candy é então uma primeira obra bastante bem interpretada, realizada, realista e provocadora q.b. e que, acima de tudo, abre a porta ao debate das relações que se podem estabelecer via internet e dos perigos que daí advêm, quer para os adultos como para as crianças. É que parece que os novos "capuchinhos vermelhos" andam aí...

® Mário Lopes