Havana – Cidade Perdida
Título Original: "The Lost City " (2005) Realização: Andy Garcia Argumento: G. Cabrera Infante Actores: Andy Garcia - Fico Fellove Inés Sastre - Aurora Fellove Nestor Carbonell - Luis Fellove Enrique Murciano - Ricardo Fellove |
Realizado e protagonizado por Andy Garcia, eis uma surpresa cinematográfica para este Outono. Um misto de documentário leve, drama e musical, Havana – Cidade Perdida pode considerar-se um excelente começo de Garcia atrás das câmaras.
La Habana, Cuba, final dos anos 50. Um país inteiro espera, impaciente, pela Revolução que há-de tirar Batista do poder e dar lugar aos guerrilheiros do povo, Castro e Guevara, que aguardam o momento certo nas florestas da Sierra Maestra. Enquanto isso, outros grupos revolucionários engendram tentativas de derrube do actual presidente. Enquanto isso também, famílias desmembram-se por divisão de opiniões políticas: uns preferem manter o conforto do actual regime, outros optam por se dedicar aos ideais da Revolução.
Fico/ Federico Fellove (Andy Garcia), um dos herdeiros de uma família de origens americanas e abastadas, é dono de um dos mais famosos clubes/cabarés de Havana – El Tropico – e um homem solitário mas devoto à família, que opta por se colocar na posição neutra quanto ao regime em vigor. Em oposição, os seus dois irmãos, Luís e Ricardo (respectivamente, Nestor Carbonnel e Enrique Murciano) abandonam a família, inclusive mulheres e filhos, para, cada um na sua facção, combaterem o regime de Fulgencio Batista. Resultado: o drama familiar, com Fico a assumir as rédeas da situação, ao mesmo tempo que mantém o seu clube protegido - onde as classes mais endinheiradas de Cuba se divertem, paralelamente a uma revolta latente entre o povo.
Garcia estreia-se neste filme como realizador e, juntando-se a nomes como Mel Gibson ou Clint Eastwood, mostra um começo promissor na cadeira da direcção. Havana – Cidade Perdida é, efectivamente, uma obra bem encadeada e coerente, que consegue beirar o documentário ao focar um pouco de cada aspecto cultural e político de Cuba e, simultaneamente, cativar o espectador com a transmissão de emoções equilibradas e realistas q.b. (nomeadamente através da história de amor entre Fico e a cunhada, Aurora, protagonizada por uma discreta mas convincente Ines Sastre, ou dos acontecimentos familiares dramáticos extrapolados pela tomada do poder pelos revolucionários). A par disso, um uso adequado de flashbacks, particularmente destacado, evita um excesso de linearidade género romance livresco, e a competente sobreposição de planos salienta o carácter artístico da obra.
A direcção de actores é eficiente, e presenças como a de Bill Murray (um hilariante The Writer, como amigo e conselheiro fracassado de Fico) ou Dustin Hoffman (o empresário Meyer Lansky, que acaba por levar à ascensão de Fico após a saída de Cuba), ainda que à partida pareçam apenas valorizadas pela ressonância dos nomes, resultam como atenuantes cómicas numa história que acaba por se revelar triste – ainda que esperançosa.
Garcia (ele próprio um cubano de origem, longe do seu país), não inovando muito em relação a outros papéis já desempenhados, é porém eficaz e parece colar-se em diversas situações ao seu personagem, Fico – um homem rico e confortável na sua posição, que se vê obrigado a afastar-se do país e da mulher que ama e a começar de novo, do zero, para não cair das malhas da intolerância e de algumas situações ridículas propiciadas pelo novo regime implantado. Por outro lado, não sabemos se Che Guevara (aqui interpretado por Jsu Garcia) era de facto o revolucionário justo que todos apregoam; se os cubanos se libertaram mesmo com Fidel ou se aprisionaram ainda mais – e esses são alguns dos reptos lançados pelo actor principal/realizador, assumindo-se imediatamente este filme também como um exercício de questionamento para quem vê, e aumentando consequentemente o interesse por este que, provavelmente, terá sido um ideal de Andy Garcia (realizar um filme sobre a pátria “perdida” e amada).
Conclusivamente: um trabalho inteligente, balanceado e bem conseguido.
® Andreia Monteiro
2 Comments:
Um trabalho académico, propagandistico e pejado de erros históricos.
Sideways, deves ser comuna para falares assim.
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