Tsotsi
Título Original: "Tsotsi" (2005) Realização: Gavin Hood Argumento: Gavin Hood & Athol Fugard Actores: Presley Chweneyagae - Tsotsi Mothusi Magano - Boston Israel Makoe - Tsotsi's father Percy Matsemela - Sergeant Zuma |
Vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2005, Tsotsi é a terceira longa-metragem do sul-africano Gavin Hood e retrata o quotidiano de um jovem de um bairro pobre de Joanesburgo que vive uma rotina marcada pela delinquência até ao dia em que, após um dos seus assaltos, se vê obrigado a fazer escolhas que orientarão uma mudança no seu rumo.
Ao roubar um carro, disparando à queima-roupa sobre a sua dona, Tsotsi (termo do calão local utilizado para designar um gangster/marginal) apercebe-se que raptou inadvertidamente o filho da sua vítima, um bebé cuja inocência e vulnerabilidade lhe resgatam memórias quase esquecidas e o obrigam a reflectir acerca da sua conduta.
Mais uma história sobre a redenção? Também, mas o filme não só trabalha o tema de forma competente como não se esgota nele, fornecendo um olhar cru e directo sobre o dia-a-dia dos guetos e das tensões urbanas, gerando um drama de travo realista dominado por uma densa amargura que não impede, contudo, o surgimento de ocasionais sinais de esperança e episódios de algum humor.
Hood aborda com sensibilidade a necessidade de pertença, a insegurança, a solidão, a identidade e o instinto de sobrevivência, questões indissociáveis do relutante protagonista que pouco mais conhece do que os quase inevitáveis ciclos de violência que o orientam desde muito novo.
Embora Tsotsi ameace cair, por vezes, no pantanoso território da manipulação emocional, tal nunca chega a ocorrer, pois ainda que haja alguns desequilíbrios na gestão da carga dramática Hood consegue proporcionar um filme honesto e com uma evidente entrega.
O elenco, constituído por actores inexperientes, partilha o empenho do realizador, oferecendo interpretações credíveis e dedicadas, contribuindo para o reforço da carga realista que a película emana.
A fluidez da câmara de Hood ajuda a imprimir essa espontaneidade, e a fotografia de cores vibrantes origina um impacto visual próximo do que Fernando Meirelles apresentou no marcante Cidade de Deus, bons elementos que compensam alguma previsibilidade e simplismo do argumento e um ritmo nem sempre absorvente.
No geral, Tsotsi é um filme interessante e revelador, e apesar dos seus desequilíbrios funciona enquanto um acutilante retrato de realidades muitas vezes ignoradas, sem nunca abdicar das complexidades da esfera humana ao desenvolver a história do seu protagonista. Uma proposta de bom cinema que não merece passar despercebida.
® Gonçalo Sá
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