Medo de Morte
Título Original: "Running Scared" (2006) Realização: Wayne Kramer Argumento: Wayne Kramer Actores: Paul Walker - Joey Gazelle Cameron Bright - Oleg Yugorsky Vera Farmiga - Teresa Gazelle Karel Roden - Anzor "Duke" Yugorsky |
Por vezes as primeiras impressões enganam, e Medo de Morte, é um exemplo de como tal ocorre também no cinema, uma vez que o trailer fazia prever um rotineiro e cansativo filme de acção na linha de Velocidade Furiosa e derivados, suspeita reforçada pelo protagonista ser Paul Walker, tornado conhecido pela participação nesse tipo de (sub)produtos, e afinal a película está uns furos acima daquilo que inicialmente se esperaria.
Contudo, uma análise à ficha técnica do filme revela também que o realizador do filme se tratava de Wayne Kramer, escolha algo surpreendente tendo em conta que a sua primeira (e anterior) obra, Má Sorte, gerou algum entusiasmo dentro de domínios indie em 2003.
Neste caso, o papel do realizador foi mesmo decisivo, pois se Medo de Morte parte de facto de um argumento mais ou menos indistinto, a diferença encontra-se na forma como Kramer o filma e desenvolve, tornando o resultado final bem mais convincente e singular do que o que se esperaria à partida.
Centrada num gangster, Joey Gazelle, que tem de recuperar a sua arma, roubada por um amigo do filho, a película proporciona uma viagem ao lado mais obscuro e pérfido da noite de New Jersey, povoada por figuras para quem a moral já pouco significa e que se encontram perdidas nos seus desvios e obessões.
O próprio protagonista é um indíviduo de índole duvidosa, pois embora seja um marido e pai dedicado não deixa de enveredar por actividades aparentemente ilícitas, mas quando comparado com os seus bizarros e rudes antagonistas consegue gerar alguma empatia.
Paul Walker não apresenta um desempenho esmagador, mas pelo menos afasta-se das interpretações baças e inexpressivas que apresenta habitualmente, apostando a espaços num registo quase histriónico à medida que Joey se torna cada vez mais lunático devido à desconcertante situação em que se envolve.
Mantendo uma tensão constante, que se pronuncia logo na cena inicial, Medo de Morte é um eficientíssimo concentrado de reviravoltas e cliffhangers, contendo uma série de cenas abrasivas e excessivas que perdem em plausibilidade aquilo que ganham em adrenalina e visceralidade.
Ocasionalmente o argumento entra na banalidade, mas a componente visual do filme, caracterizada por um realismo sujo e estilizado, compensa essa limitação, pois Kramer constrói uma atmosfera (ou melhor, selva) urbana com tanto de sinistro como de envolvente.
O ritmo desvairado e alucinante, a par das personagens à beira do limite, dificilmente faz desta uma experiência entediante, e se o filme não vai muito além do entretenimento (quando foca questões sérias, como a pedofilia, a perspectiva é algo moralista e superficial), sai-se muito bem nesse campo, com uma realização mais inventiva do que a maioria da concorrência.
Algures entre Tony Scott, Robert Rodriguez e Michael Mann (os ambientes nocturnos lembram os de Colateral), Wayne Kramer oferece uma vibrante amálgama de thriller, humor negro, e acção, que até consegue ser competente no elenco (Walker cumpre no papel principal, mas Vera Farmiga ou o jovem Cameron Bright também convencem).
É certo que há por aqui mais estilo do que substância, mas seria injusto não reconhecer que, mesmo assim, Medo de Morte é uma proposta a merecer atenção.
® Gonçalo Sá
2 Comments:
é uma proposta interessante com bastante acção e um estilo visual curioso..
Nem mais. Para filme-pipoca, já não está mal...
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