quarta-feira, maio 03, 2006

Alfie e as Mulheres

Título Original:
"Alfie" (2004)

Realização:
Charles Shyer

Argumento:
Bill Naughton, Elaine Pope & Charles Shyer

Actores:
Jude Law - Alfie
Marisa Tomei - Julie
Susan Sarandon - Liz
Dick Latessa - Joe


Numa época marcada por diversos remakes de obras cinematográficas, o realizador Charles Shyer oferece uma nova perspectiva sobre Alfie, uma obra dos anos 60 dirigida por Lewis Gilbert e protagonizada por Michael Caine.

Quatro décadas depois, a personagem ganha nova vida, desta vez na pele de um dos "meninos-bonitos" de Hollywood, Jude Law. Embora o actor tenha já interpretado papéis relevantes em títulos como O Talentoso Mr. Ripley, de Anthony Minghella, ou A.I. - Inteligência Artificial, de Steven Spielberg, nunca tinha apresentado um one-man show como acontece em Alfie e as Mulheres.

Alfie é o típico playboy egocêntrico, individualista e presunçoso, vivendo despreocupadamente e evitando compromissos. Rodeado de figuras femininas, aposta em relacionamentos efémeros e descartáveis, mantendo a distância emocional e optando pela via do cinismo e frivolidade. Jovem, bem-parecido e irreverente, desdobra-se em múltiplas formas de envolvência com o universo feminino, recusando a criação de laços sólidos com as mulheres que vai conhecendo.

Com uma personagem assim, Alfie e as Mulheres poderia ser mais uma comédia romântica vincada por lugares-comuns e uma densidade emocional nula, aspecto reforçado pelo percurso cinematográfico de Charles Shyer (convenhamos que O Pai da Noiva ou O Caso do Colar não são propriamente obras que contribuam muito para a credibilidade de um realizador).
Contudo, o filme contorna, em parte, alguns dos percursos mais óbvios e previsíveis, proporcionando uma curiosa fusão de comédia e drama. Se a primeira parte da obra decorre em domínios não muito distantes de um episódio de O Sexo e a Cidade, focando a superficialidade de certos ambiente nova-iorquinos de capa de revista, as peripécias acabam por enveredar por áreas de considerável tensão dramática, gerando um interessante olhar sobre a (des)ilusão e a (i)maturidade.

Shyer consegue criar uma vertente estética apelativa, fluída e cativante, com assinalável eficácia tanto nas enérgicas atmosferas festivas como nos episódios melancólicos e secos de carácter introspectivo. Esta vibrante energia visual, aliada à adequada banda-sonora de Mick Jagger e Dave Stuart, contribuem para dotar Alfie e as Mulheres de um saboroso carácter lúdico.

Jude Law também é bem sucedido na sua interpretação, mesclando arrogância com uma fragilidade que se descortina progressivamente. Tal como no filme original, o protagonista enceta um diálogo com o espectador, falando directamente para a câmara e conseguindo criar alguma empatia (se nos anos 60 esta técnica era original, hoje já é algo relativamente comum, como pode ser constatado em películas como Alta Fidelidade, de Stephen Frears).
A lista de actrizes é igualmente digna de destaque e inclui, entre outros, nomes de senhoras ilustres como a sempre competente Marisa Tomei ou a veterana Susan Sarandon.

Mesmo com alguns clichés típicos de um cinema assumidamente comercial - a misoginia ainda está presente e a película não consegue evitar a queda para o final moralista -, Charles Shyer oferece uma obra convincente que se desdobra entre territórios característicos do filme new yorker e os tons crus e lacónicos do realismo britânico.
Um envolvente retrato do hedonismo e da solidão, sobretudo do universo masculino, Alfie e as Mulheres exibe alguns pontos de contacto com o cariz agridoce de títulos como Era uma Vez um Rapaz, de Chris e Paul Weitz, ou Roger Dodger, de Dylan Kidd, que também se centravam em protagonistas masculinos egocêntricos e imaturos.
Uma boa alternativa aos tradicionais chick flicks.

® Gonçalo Sá

2 Comments:

At 6:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Parece incrível mas ainda não vi este filme, apesar de o ter em casa. Meu irmão comprou o DVD mas se até ao momento ainda não o vi foi porque nunca me chamou assim muita atenção. Mas enfim... assim que possível irei tentar ver.

 
At 1:36 da tarde, Blogger gonn1000 said...

Também não tinha grande interesse, mas é melhor do que esperava.

 

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