A Interprete
Título Original: "The Interpreter" (2005) Realização: Sydney Pollack Argumento: Martin Stellman, Brian Ward, Charles Randolph, Scott Frank & Steven Zaillian Actores: Nicole Kidman - Silvia Broome Sean Penn - Tobin Keller Catherine Keener - Dot Woods |
Repleto de actualidade e pertinência este é um filme sobre as Nações Unidas que junta dois dos melhores actores do cinema contemporâneo: Nicole Kidman e Sean Penn. O realizador Sydney Pollack mistura bons ingredientes em doses certas.
Não é todos os dias que surgem filmes sobre uma das organizações mais globais e importantes do planeta, as Nações Unidas. O realizador Sydney Pollack – que como é habitual participa também como actor numa personagem poderosa mas pouco presente (chefe dos Serviços Secretos) – presenteia-nos com uma história apaixonante que mistura política, corrupção e o mundo sob o ponto de vista das Nações Unidas. Aliás, esta foi mesmo a primeira vez que a produção de um filme teve a possibilidade de filmar dentro do edifício das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Um dos mais bem guardados edifícios do mundo e onde ao se entrar deixa-se de estar em território norte-americano e passa-se a ocupar território internacional, como explica um segurança a uma dupla de agentes dos Serviços Secretos. É neste contexto de globalidade, de pessoas que misturam várias culturas e conhecedores de várias línguas que nos surge este thriller político e intenso que é realizado com a inteligência e o rigor de Pollack – galardoado com um Óscar e grande amigo do falecido Stanley Kubrick.
O realizador consegue misturar ingredientes bem saborosos. As estrelas Nicole Kidman e Sean Penn, uma história sobre intriga internacional com twists inesperados e uma tensão impressionante. Ainda nos consegue mostrar um mundo pós-moderno ensombrado por tiranos regionais e o terrorismo global onde apenas dois papéis se destacam. Kidman volta a fazer um papel marcante ao interpretar uma tradutora aparentemente vulnerável chamada Sílvia Broome que encerra alguns mistérios. Sílvia ouve inadvertidamente uma ameaça de morte contra o ditador de um estado ficcional africano, chamado Matobo, que irá discursar dentro de semana na ONU. A ameaça falada num dialecto raro vai ser o motivo para o agente dos serviços secretos Tobin Keller (Sean Penn) investigar o caso. Por entre desconfianças e algumas ameaças Tobin acaba por primeiro duvidar de Sílvia, mas depois criar uma relação estranha de amizade onde ambos procuram motivos para confiar um no outro.
A dúvida está lá sempre: estará ela envolvida? Numa luta emocionante contra o tempo para prevenir a morte de um líder africano que já foi um herói e é hoje um tirano, o ritmo intenso mantém o espectador bem atento. Aliás, o filme procura de uma forma bem conseguida explorar a evolução de muitos dos líderes africanos que começam como salvadores com ideias inovadoras e na tentativa de afastarem outros tiranos, até ao momento em que eles próprios se tornam tiranos.
A personagem interpretada por Nicole Kidman é invulgar e muito poucas vezes abordada em filmes. Nasceu num país africano instável onde os brancos são vistos com algum desprezo. Conheceu o melhor de África na infância e experienciou o pior a partir da adolescência, quando os pais morreram vítimas de uma mina do actual ditador. Envolveu-se na guerrilha até ao momento em que abandona tudo e resolve tentar esquecer a raiva. É, portanto, uma personagem muito complexa que começa por aparentar ser bastante simples e frágil. Silvia Broome tem um inglês invulgar, com uma pronúncia que pretende indiciar as várias línguas e experiências da personagem. Tem dentro dela sentimentos confusos e, apesar de fascinante, poderia ter tido uma postura menos favorável (de forma a desconfiar-se mais dela) no desenrolar do filme.
Sean Penn volta a convencer neste papel apesar de aparecer sempre bem penteado demais... na amargura poderia haver algum desleixo de barba e cabelo (falhou aí talvez). A sua mulher tinha morrido dois meses antes e por trás de uma postura dura, inflexível e muito profissional acaba por esconder-se esta amargura e vazio na sua vida. Sente-se esse vazio numa parte em que chora ao ouvir a mensagem de voz deixada pela mulher antes do acidente mortal de viação. Mas na parte final do filme deixa um pouco as emoções por Silvia falarem mais alto do que o profissionalismo - essa parte parece-me de bastante realismo.
A relação entre os dois é algo confusa. Parecem pouco adequados um para o outro no início. Com o desenrolar do filme cria-se uma relação intima e muito próximo entre os dois. A linha entre a amizade de confidentes e o romance é ténue, mas até ao final mantém-se a amizade.
«A vingança é a forma preguiçosa da dor», diz algures Silvia e talvez seja essa uma das respostas que o filme pretende dar ao mostrar que o perdão também é a resposta - muito à imagem do conceito da própria organização das Nações Unidas. Aliás, Sidney Pollack chegou a reunir-se com Koffi Annan para trocar ideias, conseguindo também convencer o líder da instituição planetária a ceder (aos fins-de-semana) o espaço. A Intérprete acabam por ser 128 minutos de emoção, intriga, ameaças, perigo e surpresas com um elenco, história e realizador que valem a pena.
® João Tomé
4 Comments:
foi um filme interessante, mas falta-lhe alguma acção!
Não é brilhante, mas era bom que todos os blockbusters fossem assim tão eficazes e bem trabalhados.
Achei um filme regular, mas sinceramente nada de especial. É crto que também não é o meu género favorito...
Achei interessante, mas faltou-lhe qualquer coisa para triunfar :|...
Cumps.
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