O Sargento da Força Um - A Reconstrução
Título Original: "The Big Red One - The Reconstruction" (1980) Realização: Samuel Fuller Argumento: Samuel Fuller Actores: Lee Marvin - The Sergeant Mark Hamill - Pvt. Griff, 1st Squad Robert Carradine - Pvt. Zab, 1st Squad |
Conhecido pela sua filmografia atípica e de forte carácter independente, Samuel Fuller apresentou O Sargento da Força Um pela primeira vez em 1980, e este ficou como uma das suas obras mais emblemáticas e aclamadas.
Mais de vinte anos depois, o filme foi alvo de uma reconstrução por Richard Schickel e Brian Jamieson, que acrescentaram algumas cenas à versão inicial retiradas de uma montagem de quase seis horas que incluía muitas sequências rejeitadas. Assim, a duração do novo filme é consideravelmente mais longa, contando com 162 minutos, uma reconstrução significativa tendo em conta que o original não ultrapassava os 109.
O Sargento da Força Um – A Reconstrução não é propriamente um Director’s Cut, uma vez que esta remodelação foi efectuada após a morte do realizador (ocorrida em 1997), mas aproximar-se-á, eventualmente, da versão do filme que Fuller preferia (tendo em conta que o cineasta se mostrou pouco convencido com as cerca duas horas de filme apresentadas em 1980).
Um denso e portentoso olhar sobre os dramas e absurdos da guerra, este épico centra-se num esquadrão do exército norte-americano (interpretado com consistência por Lee Marvin, Robert Carradine e Mark Hammill, entre outros) em missão durante a Segunda Guerra Mundial, que combate em África e na Europa entre 1942 e 1945.
Fuller inspirou-se nas suas próprias memórias enquanto soldado para gerar este retrato assombro e pungente, uma obra de extremos que tanto percorre domínios de uma singular sensibilidade como aposta nas mais cruéis e nefastas situações, expondo com mestria a ambivalência humana e as consequências da violência.
Com tanto de trágico como de cómico (vincado por um humor bem negro), contendo momentos de abrupta frieza a par de outros inesperadamente calorosos, o filme adopta uma estrutura episódica que segue as atribuladas peripécias do grupo de soldados, focando não só a coragem e resistência destes mas também os seus receios e inquietações. Fuller consegue injectar as doses certas de nervosismo e tensão, proporcionando uma narrativa marcada pela imprevisibilidade onde o carácter efémero da vida está omnipresente e é cada vez mais sentido pelo núcleo de protagonistas.
As cenas de acção são vibrantes e claustrofóbicas, dominadas por atmosferas nebulosas onde o caos é um elemento incontornável. Muito eficazes e adequadamente rudes, as situações ambientadas nos combates conciliam um negríssimo realismo e um dramatismo quase poético (com reflexos, por exemplo, n’O Resgate do Soldado Ryan, de Spielberg), despoletando uma aura de melancolia e amargura que se adensa progressivamente.
A estrutura fragmentada e espartana do filme pode funcionar contra si, dado que o ritmo e a pertinência das cenas é desigual, mas globalmente O Sargento da Força Um – A Reconstrução esmaga pela verosímil desolação e pelos momentos de intrigante intimismo que despontam entre as explosões e cenários catastróficos, exibindo o olhar de um cineasta ousado e inspirado. Um poderoso filme de guerra que, à semelhança dos melhores, não ignora as convulsões e complexidades da esfera humana.
® Gonçalo Sá
4 Comments:
só vi a primeira versão.
para 1980 achei um pouco datado.
com um papel memoravel de Lee Marvin
Não gostei tanto como tu, mas gostei. De qualquer forma, um filme de guerra um pouco diferente do que é normal.
Isabel, obrigado pelos teus comentários no meu blogue.
Não conhecia o teu,mas a partir de hoje vou ser cliente habitual.
Um beijo.
David Santos: Por acaso não o acho muito datado...
Daniel Pereira: Pois, já desconfiava que o tinhas visto lol
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