Os Mutantes
Título Original: "Os Mutantes" (1998) Realização: Teresa Villaverde Argumento: Teresa Villaverde Actores: Ana Moreira - Andreia Alexandre Pinto – Pedro Nelson Varela - Ricardo |
O cinema português não é de todo aquele que mais admiro ou que mais procuro, é certo, mas existem certos filmes que talvez por se afastarem daquilo que podemos chamar de matrizes do cinema português, me chamam a atenção e me cativam mais, como foi o caso de Rasganço, de Paulo Branco, e o fantástico Aparelho Voador a Baixa Atitude, de Solveig Nordlund. Mas o facto de não apreciar o tradiconal modelo português, não implica que hajam excepções como é o caso de O Delfim, de Fernando Lopes, e belo Frágil Como o Mundo, de Rita Azevedo Gomes.
A verdade é que o filme português caracteriza-se maioritariamente por um ritmo muito lento, e pouca expressividade nos diálogos (por uma grande parte dos actores que integram os filmes), e nesse aspecto, a obra aqui abordada, Os Mutantes, não é excepção. O filme tem pouco ritmo e pouca conectividade entre as personagens, podendo levar, ao longo do filme, a um desinteresse pela história e pelo filme em si por parte do espectador. Mas logicamente Os Mutantes tem aspectos muito positivos também, e tendo em conta que se trata dum filme português, tento analisá-lo como tal, e por isso destaco a fotografia deste filme que agradou-me bastante eque esteve à responsabilidade de Acácio de Almeida, e também o desempenho da actriz Ana Moreira, bastante expressivo e convincente na sua adolescente problemática que está revoltada com o mundo e consigo mesma.
Os três "mutantes" de seu nome Andreia, Pedro e Ricardo, estão todos fugidos ao centro de reinserção social e vivem todos amargas experiências para sobreviverem nas ruas da capital portuguesa, sendo que Pedro e Ricardo furtam e pousam para cineastas estrangeiros e pervertidos.
Andreia por sua vez, procura um rapaz, o pai do filho que mais tarde descobre estar à espera, e que irá nascer numa casa de banho e será abandonado nesse mesmo local. Isto tudo numa cena que impressiona duma maneira extraordinária devido ao desempenho da actriz nesta sequência, pois na medida certa ela transporta para o espectador a dor e angústia de ter um filho sozinha. Sem recurso a qualquer palavra, a fragilidade, a singularidade e o abandono foram as “palavras visuais de ordem.”
Assim sendo, o único sítio que parece que estes "mutantes" se sentem bem é sobre rodas a sentirem o vento a bater nas suas faces, e a serem levados para um destino que talvez se encaixe pela primeira vez nas suas vidas ...
Os Mutantes, o filme, retracta uma realidade difícil de contar, uma realidade interior daqueles que não se adaptam a lugar nenhum, que não aceitam a sua realidade, que procuram sempre algo mais mesmo não saibam bem o quê, que revoltam-se e desejam mudar de vida, mas que acabam por sobreviver às atrocidades da vida. Apesar disso têm forças para rir, chorar, sonhar, procriar, morrere e fugir. Talvez por isso não haja na obra um fio condutor de uma história, existindo sim momentos que os três "mutantes" vivem e que os conduzem aos seus destinos incertos e inaptos - uns mais trágicos que outros.
Em certa medida o conceito de Os Mutantes é algo que poderia cativar muitas pessoas, mas torna-se um filme difícil de digerir, tanto pelos temas que fica como pela forma como foi construído, sem um forte fio condutor na história e sem um ritmo mais intenso. Além disso, a selecção das personagens secundárias (dos adolescentes e crianças que acompanham "os mutantes"), poderia talvez ter sido melhor preparada por meio de um casting mais selectico em qualidade. Talvez assim o número 33000 de espectadores aumentasse mais alguns milhares, quem sabe.
® Inês Montenegro
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