Mephisto
Título Original: "Mephisto" (1981) Realização: István Szabó Argumento: Klaus Mann, Péter Dobai & István Szabó Actores: Klaus Maria Brandauer - Hendrik Hoefgen Krystyna Janda - Barbara Bruckner Ildikó Bánsági - Nicoletta von Niebuhr |
A acção de Mephisto começa em meados dos anos 20 em Hamburgo, onde Hendrik Höfgen, um jovem e ambicioso actor, dedica-se de corpo e alma à ideia do teatro de trabalhadores. Acaba por casar um pouco por conveniência com uma mulher para que sua carreira possa avançar, o que acaba por acontecer, atingindo Hendrik fama graças ao papel de Mephistopheles na peça “Fausto” de Goethe. Com este papel impressiona intensamente um general que mais tarde, aquando da tomada de poder dos nazis, se torna seu mentor e “protector”. Hendrik acaba por abandonar todas as suas convicções políticas, tornando-se no mais aclamado actor e director do teatro nazi. Quando o império nazi e o poder destes começa a entrar em declínio, Hendrik acaba também ele por entrar em declínio devido à sua estreita colaboração com os nazis.
Baseado num romance que tem por base uma história real, Mephisto acaba por ser o retrato de um homem dotado de um incrível ambivalência que por fazer tudo que esteja ao seu alcance por sua profissão, acaba por perder tudo aquilo que lhe é mais querido - ser amado e aplaudido.
Quando falando de representação em Mephisto a incidência recai toda sobre o principal actor, que é, afinal, o seu papel que dá mote à história do filme - Klaus Maria Brandauer. A sua personagem, Hendrik Höfgen, é de uma complexidade extrema, exigindo na minha opinião, os dois “estilos” padrão de representação anteriormente falados. Podemos assistir ao longo do filmes momentos de representação extenuantes, exteriorizados ao máximo, no fundo, para o espectáculo, para a “moda” e outros, em que Brandauer actua como que para “dentro”, ou seja, não exterioriza o que sente, mas vive sim em seu interior, no seu “eu” todos os problemas da personagem que interpreta. A história de Mephisto em si exige tal na medida que existe a ambivalência vincada da personagem principal, Höfgen, o artista, o actor, e Höfgen o ser humano com sentimentos, preso no constante choque de realidades - a realidade como actor e a realidade moral, moral no sentido dos seus problemas de consciência em relação em muitas das atitudes que toma em prol da constante ascendência da sua carreira como actor. Esta ambivalência está bem patenteada quando quase no final Höfgen diz: “Que é que querem de mim? Sou apenas um actor.” A representação de Brandauer é fascinante, um exemplo para todo e qualquer actor, que acabaria por lhe dar fama internacional e o louvor de críticos, os quais na altura consideravam sua actuação “virtuosa”.
Se realmente algum filme é adequado a uma interpretação crítica do acto de representar, Mephisto é esse filme. Para além da extenuante e completa representação da parte de Brandauer, a história em si é uma abordagem perfeita a este tema: a história sobre a exploração das responsabilidades de um artista num estado totalitário, ou seja, no fundo, uma história sobre o que é ser actor, a diferenciação entre o que se vê actuar e a pessoa fora do filme, tão simples e humana como todos os outros seres deste mundo. Mais uma vez é de evidenciar a dualidade de papéis da mesma personagem ao longo do filme - o actor como actor e o actor como ser humano, fora do palco e integrado numa sociedade com todas as responsabilidades e problemas de toda a gente.
Assim, em conclusão, Brandauer tem uma das mais completas e extraordinárias representações de todos os tempos em Mephisto, navegando entre duas personagens que, emboras as mesmas, são diferentes e exigem ao mesmo tempo dois estilos de actuação completamente opostos, mas materializados de uma forma perfeita demonstrando de uma crua e realista maneira o que é ser actor e o respeito que esta profissão merece.
® Bruno Sá
1 Comments:
É uma dissecação psicológica e social acerca do conformismo, da cumplicidade de uma fracção da população para com o fascismo. Contém uma mensagem intrigante e interessante.
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