quarta-feira, agosto 17, 2005

Cruel

Título Original:
"Ondskan" (2003)

Realização:
Mikael Håfström

Argumento:
Mikael Håfström & Hans Gunnarsson

Actores:
Andreas Wilson - Erik Ponti
Henrik Lundström - Pierre Tanguy
Gustaf Skarsgård - Otto Silverhielm
Linda Zilliacus - Marja


Nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2004, Cruel é a segunda longa-metragem de Mikael Håfström e propõe um amargurado olhar sobre os códigos sociais, a violência e o crescimento.Centrado em Erik Ponti, um jovem sueco de 16 anos que é enviado para um colégio interno por mau comportamento, o filme segue a sua jornada no novo local de estudo e residência, expondo as suas tentativas de não voltar a entrar no ciclo de violência que fez com que fosse repreendido anteriormente.

Embora consiga forjar alguns laços de confiança nesse novo meio – nomeadamente com o ponderado colega de quarto e com uma jovem e bela empregada -, Erik assume uma postura directa e frontal que cedo lhe garante uma série de antagonistas, sobretudo grande parte dos estudantes mais velhos que manipulam a rede de relações internas através da cultura da violência, originando um sistema baseado no medo e na repressão.

Deparando-se com a sua última oportunidade para continuar os estudos, Erik fica cada vez mais relutante quanto à atitude a adoptar. Por um lado, voltar a desiludir a sua mãe é algo que pretende evitar, por outro, considera inaceitável submeter-se às penosas e humilhantes ordens e caprichos dos colegas mais velhos, que o encaram como um alvo de chacota. Recusando tornar-se mais uma vítima de punições infundadas e abusivas, o jovem reage e coloca em causa o sistema que envolve os colegas, mas logo descobre que o preço a pagar pode ser demasiado elevado.

Cruel desenrola-se durante os anos 50, num período onde o impacto do nazismo ainda se encontrava bem presente, mas a sua perspectiva sobre as redes de disseminação de abusos físicos e/ou psicológicos em certas formas de organização social continua bem actual, e Håfström consegue criar um apropriado retrato cru, seco e realista que torna o filme numa poderosa experiência cinematográfica.

Complexo e verosímil, Cruel é um filme simultaneamente duro e comovente, que consegue despoletar um forte impacto emocional sem recorrer a rodriguinhos melodramáticos ou vícios de um típico “filme-choque” (embora contenha momentos tensos e claustrofóbicos, estes nunca se tornam exagerados ou gratuitos). Grande parte da credibilidade das situações é gerada pela brilhante direcção de actores, uma vez que o elenco, apesar de maioritariamente jovem, é bastante seguro. Andreas Wilson, no papel de protagonista, é especialmente notável num desempenho capaz de espressar as convulsões internas de um adolescente incapaz de responder a uma realidade contraditória. Combinando austeridade e fragilidade, Wilson assinala uma muito promissora prestação e é um dos maiores trunfos do filme.

Para além do protagonista, Cruel impõe-se como um filme portentoso devido à realização simples e despojada de Håfström, certeira para uma história destes contornos, e ao coeso trabalho de argumento, que foge a simplismos e moralismos (ainda que perca algum fôlego nas cenas finais, não compromete o filme). Pertinente e genuíno, Cruel é uma obra adulta e sensível que oferece um atento olhar sobre o lado mais desencantado e doloroso da juventude, constituíndo um dos títulos que, apesar de chegar a salas nacionais com algum atraso, ainda vem a tempo de integrar o núcleo dos filmes obrigatórios de 2005.

® Gonçalo Sá

5 Comments:

At 6:28 da tarde, Blogger Francisco Mendes said...

É uma batalha metafórica contra a opressão fascista na Suécia de 1950. O profundo estudo de personalidade faz desta película uma obra poderosíssima, sustentada pela forma como Håfström retrata notavelmente a sociedade sueca de 50.

“Ondskan” é um filme brutal, mas também contém lacunas. Existe algum exagero na dramatização de certas cenas, certos dilemas são resolvidos com excessiva simplicidade.

 
At 10:15 da tarde, Blogger gonn1000 said...

Sim, o desenlace peca por ser um pouco simplista, mas ainda assim considero este um dos grandes filmes de 2005 (e provavelmente o melhor do Verão)...

 
At 11:52 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Achei este filme forte, e até mesmo um pouco sentimental. Visceral em alguns momentos. Portanto, um gênero que eu aprecio. Um dos grandes filmes do ano. O blog de vocês simplesmente é demais, gostei bastante mesmo. Agradeço também a visita ao meu blog, e se um dia precisarem de mais um colaborador, podem me chamar [risos]...um abraço a todos e até!

 
At 2:05 da tarde, Blogger gonn1000 said...

Obrigado. E quanto à proposta para colaborador, fica na nossa lista de espera e quando precisarmos já sabemos :)

 
At 12:26 da tarde, Blogger Roberto Moreno said...

CRUEL É O QUE O HOTEL SHERATON ESTÁ A FAZER COM A FUNDAÇÃO GEOLÍNGUA. - O logotipo do Sheraton é igual ao da Escola Sueca, Cruel. - Para maiores detalhes entrar em contacto com Roberto Moreno - (351) 21 313 99 99 ou 966 054 441 ou geo@geolingua.org

 

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